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Artigo 32 – A compreensão dos sacramentos ao longo da história da Igreja

Artigo 32 – A compreensão dos sacramentos ao longo da história da Igreja

Os sacramentos ao longo da história da Igreja passaram por diversas fases de compreensão: Antiguidade cristã: Vamos encontrar o entendimento

Os sacramentos ao longo da história da Igreja passaram por diversas fases de compreensão:

Antiguidade cristã: Vamos encontrar o entendimento de alguns escritores cristãos sobre o tema do sacramento. Justino Mártir, que no mysterion distingue entre “sinal” e “ação”. Tertuliano, que traduz sacramentum como “coisa sagrada”. Ambrósio de Milão, que sublinha a distinção entre dois elementos: visível e externo e o invisível e interno. Agostinho de Hipona distingue entre dois elementos, “coisa” e “sinais”: o primeiro nos remete apenas a si mesmo, isto é, apenas ao que é visível e palpável; o último nos remete a algo que vai além. Nesta perspectiva, “um sacramento é um sacrifício visível, isto é, um sinal sagrado de um sacrifício invisível”. Neste sentido Agostinho busca uma conexão entre o visível e o invisível para explicar a legitimidade do Sacramento entendido como um sinal sagrado que aponta para uma realidade sagrada, para Deus. Além da distinção entre “coisa” e “sinais”, Agostinho chama atenção não tanto para o aspecto material do Sacramento, mas para a dimensão espiritual. Assim, sublinha a importância da palavra: “a palavra se une ao elemento e torna-se sacramento, sendo ela própria, por assim dizer, palavra visível. O elemento material, por si só, não é suficiente; alguém precisa pronunciar uma palavra sobre a matéria e este alguém é, sobretudo, Cristo: quando alguém batiza, o próprio Cristo batiza. Depois, o Papa Leão Magno dá uma das mais belas definições de Sacramento, síntese de toda uma época: “o que era visível em Cristo passou aos sacramentos da Igreja”. Marca a ascensão da Igreja, quando Jesus Cristo não aparece mais em forma humana, mas tudo o que nele era visível, tangível, passou para os Sacramentos da Igreja e neles permaneceu.

Escolástica medieval: As transformações no cristianismo ocidental abriram um novo capítulo na reflexão sobre os Sacramentos. Os Sacramentos não são mais compreendidos ou a verdade e a legitimidade do que eles expressam começam a ser questionadas. No século XII o tema do número de Sacramentos venha à tona. Por que os ritos como consagração do altar, os votos religiosos, a unção dos reis, a aspersão das cinzas, o sepultamento, não são Sacramentos? Afinal, em todos eles estão o sinal sagrado. Por que exatamente sete? O que distingue esses ritos exemplares do que chamamos de Sacramento? Por que o matrimônio é um Sacramento e os votos religiosos não? Questões assim colocadas têm duas transformações. A primeira diz respeito à influência da legislação eclesiástica, que busca codificar e uniformizar procedimentos. A segunda é a crescente influência da filosofia de Aristóteles, que busca dar um nome preciso à essência de uma coisa e definir o que separa das demais. Portanto, cada definição é caracterizada por: “gênero próximo” e “diferença específica” (ex: quadrado e quadrilátero regular). Vale a pena notar, que, ao perguntar por que o matrimônio é um Sacramento e os votos religiosos não, nossa pergunta parece ser essencialmente uma questão de “diferença específica”. Essa mentalidade levou Hugo de São Vitor a propor a seguinte definição em meados do século XII: “um Sacramento é um elemento corporal ou material, colocado no exterior de forma sensível, tornando-o presente por semelhança e significando-o por doutrina; contendo, segundo à santificação, uma certa graça invisível e espiritual”. O ensinamento de Hugo foi desenvolvido por Pedro Lombardo, que propôs sua própria definição nas Sentenças: “O Sacramento é um sinal de uma coisa sagrada. O Sacramento é uma forma visível da graça invisível”. Pedro Lombardo também enumerou os sete Sacramentos: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção, Ordem e Matrimônio. No século XIII houve tentativas de novas definições para explicar melhor os Sacramentos. Boaventura tentou vincular os Sacramentos à vida humana, argumentando que eles correspondem às três virtudes teologais (fé, esperança, caridade) e às quatro virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza, temperança). Segundo ele, os Sacramentos devem acompanhar a vida e o desenvolvimento humano. Na visão de Aristóteles e Tomás de Aquino se distinguirá dois elementos em todo Sacramento: a matéria e a forma, as quais constituem uma unidade inseparável.  A grandeza de Tomás está em não se limitar nas ferramentas que a filosofia de Aristóteles lhe abriu, mas focar no conceito de Sacramento proposta por Agostinho: “Um Sacramento é sinal de algo sagrado na medida em que santifica o homem”. São Tomás enfatiza que todos os Sacramentos vêm de Cristo e que a causa da santificação é a sua Paixão. Um Sacramento, mesmo permanecendo no nível de sinal, é, não obstante, um sinal especial que significa, contém e realiza a graça.

A normativa dos Sacramentos: Este modo de definir os Sacramentos começou a se difundir nos séculos seguintes. Esperava-se uniformidade no ensinamento como qualidade de uma Igreja que enfrentava vários problemas internos e externos. Por isso, quando se busca a unidade com as Igrejas Orientais, encontramos estas formulações familiares na bula de união dos armênios do Concilio de Florença de 1439: “para facilitar a compreensão dos armênios de hoje e de amanhã, esboçamos, nesta brevíssima fórmula, a doutrina sobre os Sacramentos. E os Sacramentos da nova lei são: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção dos enfermos, Ordem e Matrimônio. Estes Sacramentos contem a graça em si mesmos e a comunicam a quem os recebe dignamente. Destes, os cinco primeiros são ordenados à perfeição individual, os dois últimos ao governo e expansão de toda a Igreja. Todos estes Sacramentos consistem em três elementos: das coisas que constituem a matéria, das palavras que são a forma e da pessoa do ministro, que confere o Sacramento com a intenção de fazer o que a Igreja faz. Se faltar um desses elementos, não existe Sacramento. Entre estes Sacramentos, há três – o Batismo, a Confirmação e a Ordem – que imprimem na alma um caráter indelével, ou seja, um sinal espiritual que distingue dos demais, razão pela qual tais Sacramentos não podem ser administrados várias vezes à mesma pessoa. Os outros quatro não imprimem caráter; é permitido repeti-los”. Assim, desenvolve-se a doutrina do “selo sacramental”, ou seja, de um sinal espiritual e indelével. Sendo assim, estes são tomados apenas uma vez e permanecem para sempre, quer que goste ou não. Uma pessoa batizada, por exemplo, torna-se cristã. Mesmo que mais tarde negue sua fé, ainda que publicamente, ela permanece cristã pelo resto de sua vida. Séculos depois, observou-se que o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia são celebradas como um todo. Não é por acaso que todos eles juntos são chamados de “Sacramentos da Iniciação Cristã”.

Nova proposta do Concílio Vaticano II: O concilio Vaticano II deve ser incluída neste amplo contexto de busca numa tentativa de lidar com a história e a teologia dos séculos anteriores, com o intuito de ter uma visão mais ampla e aprofundada do que sabemos e vivemos hoje. O Concilio Vaticano II não foi convocado para resolver nenhuma polêmica teológica cadente, como havia acontecido anteriormente, mas – para citar a primeira frase do Concilio – “ se propõe a fomentar cada vez mais entre os fiéis a vida cristã; adaptar melhor às necessidades do nosso tempo as instituições que podem ser modificadas; favorecer tudo o que possa contribuir para a união de todos aqueles que creem em Jesus Cristo; e fortalecer tudo o que possa atrair todas as pessoas ao seio da Igreja”.

JURCZAK Dominik. Os Sacramentos. Cadernos do Concilio – 11. 1ª Edição – 2023. Brasília: edições CNBB, 2023.

OBS: Síntese do 2º capítulo, pg 17: A compreensão dos Sacramentos ao longo da História da Igreja. Pe Marcio Halmenschlager.

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