O semeador semeia a Palavra (Mc 4,1-20). Jesus na parábola do semeador faz referência a sua Palavra, que ao ser semeada encontra uma diversidade de terrenos. “como uma semente germinada na terra de nossa vida e que, para dar fruto, deve adentrar no íntimo do nosso coração, no profundo de nossa pessoa.” Deixar-se tocar e transformar pela Palavra viva de Deus é o que nos faz cristãos. Pois, ela é portadora da vida e da verdade. “E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós, e nós contemplamos a sua glória, glória como do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. (Jo 1,14).

Em cada celebração litúrgica a Palavra deve receber a devida adoração, por ser a semente de Deus lançada no terreno do coração humano. Essa semente ao encontrar um terreno bom, germina fazendo florescer a vida da qual é portadora. “O segredo, todavia, é confiar na semente, dar crédito à Palavra de Deus, ouvi-la, acolhê-la no campo da própria vida, ainda quando não se compreende até o mais profundo, deixá-la agir, descer até o fundo para que ali possa amadurecer”. A postura mais adequada diante da Palavra de Deus proclamada é de permitir que entre em nossos ouvidos, onde atentos estamos desejosos em nos deixar transforma por ela. Deixar que germine em nós, mexa com nossos sentimentos e ecoe interiormente, mesmo quando não entendemos plenamente seu significado. O contrário e erro de muitos ouvintes é manipular a Palavra para legitimar o próprio egoísmo, colocando suas próprias convicções sobre a Palavra de Deus, esquecendo que a verdade e vida se encontram na Palavra. Pois, como afirma o evangelista João, a Palavra é uma pessoa, Jesus Cristo. Abrir-se a Palavra é ir ao encontro do próprio Cristo. Só permitiremos o florescimento e o amadurecimentos dos frutos de Deus se estivermos dispostos ao encontro com a Palavra que se fez carne.

O maior efeito da Palavra, assim como da semente é a sua transformação. O germinar, o florir e frutificar, nos mostram o romper da vida. Assim também ocorre no instante do rito de transubstanciação da Santa Missa. “Há um momento na Missa em que ‘tudo muda’ e o pão não é mais pão, mas se torna o Corpo do Senhor Jesus, o vinho se torna o seu sangue”. A sementes do trigo e da videira se transformam nos frutos do pão e do vinho, mas pela ação da Palavra e do Espírito Santo se tornam a presença visível do Senhor. “Só Jesus que, prensado, espremido pela traição dos amigos, aniquilado pela vontade benéfica de derrotar o verdadeiro inimigo, o mal, produz doçura e amor”. Ao comungarmos o corpo e sangue do Senhor, manifestamos o desejo de sua vida nova, que busca eliminar toda consequência do pecado e da morte em nós. O fruto do Filho Unigênito é oferecer tudo de si mesmo, seu corpo, sua vida. Como o fruto da uva é esmagado no lagar, o Senhor se entrega a nós, toca nossos lábios e em cada comungar nos une a Ele.

Como afirma o profeta Isaías: “Tal como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam antes inebriar a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, produzindo sementes para quem semeia e pão para quem come, assim acontece com a minha palavra, que sai da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará tudo aquilo que decidi, realizando a missão para a qual a enviei” (Is 55,10-11). A Palavra é Jesus! O fruto é Jesus! Todo domingo – toda vez que celebramos a Santa Missa é a Palavra que se fez carne que realiza todas as coisas. E cada Eucaristia é a manifestação mais sublime do seu amar.

“Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morrer, fica só; mas, se morrer, produz muito fruto. […] Quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim”. (Jo 12,24.32).