Por iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e protagonizada pelas pastorais sociais, está em desenvolvimento no País, desde 2020, a 6ª Semana Social Brasileira , cujo tema é “Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho”. A proposta desta edição está em consonância com o que disse o Papa Francisco no “1º Encontro Mundial de Diálogo com os Movimentos Populares”, convocado por ele e realizado em Roma. No seu discurso afirmava o Papa seu desejo de que não houvesse “nenhuma família sem Teto, nenhum camponês sem Terra, nenhum Trabalhador sem direitos”. O mutirão tem o propósito de promover a participação da igreja no debate destas temáticas em articulação com pessoas de boa vontade, organizações, movimentos sociais e a sociedade como um todo. Visa identificar os problemas a elas relacionados bem como apontar alternativas existentes e/ou propostas para a sua transformação. Com isso, pretende contribuir para tecer redes de solidariedade em torno de um novo projeto para o Brasil.
As Semanas Sociais Brasileiras inspiram-se na experiência secular da Igreja Católica na Europa e, no Brasil, vêm sendo realizadas desde a década de 1990, sempre em forma de mutirões que visam impulsionar o protagonismo efetivo dos cristãos na participação e transformação da realidade socio-política e econômica do País.
Histórico das Semanas Sociais Brasileiras
1ª Semana Social Brasileira (1991): Mundo do Trabalho: desafios e perspectivas
2ª Semana Social Brasileira (1993-1994): Brasil: alternativas e protagonistas
3ª Semana Social Brasileira (1997-1999): Resgate das Dívidas Sociais: justiça e solidariedade na construção de uma sociedade democrática
4ª Semana Social Brasileira (2003-2005): Mutirão por um novo Brasil: articulação das forças sociais para a construção do Brasil que nós queremos;
5ª Semana Social Brasileira (2011-1013): Um novo Estado: caminho para uma nova sociedade do Bem Viver.
6ª Semana Social Brasileira: (2020-2022): Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho
Em consonância com os encaminhamentos da Arquidiocese de Passo Fundo, a Pastoral Social da Paróquia Santo Antônio assumiu a coordenação deste processo e promoveu duas Rodas de Conversas sobre as temáticas propostas. Os encontros aconteceram na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), de Guaporé. Em cada reunião houve a participação de representantes de organizações sociais, agentes que atuam em conselhos paritários e organismos governamentais, alem de representantes eclesiais. Os trabalhos foram coordenados pelo Diácono Permanente Silvio Antônio Bedin, da Pastoral Social da Paróquia.
1ª RODA DE CONVERSAS: A TERRA
O primeiro encontro ocorreu no dia 21 de maio, com a participação do sr. Fernando Marcolin, presidente do STR, do engenheiro agrônomo e professor Antônio Cesar Perin (Emater), do sr. Olívio Girotto, do movimento de Focolares e Conselho Municipal do Meio Ambiente, do sr. Valcir Buffon, presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, do sr. Edelvan Balbinot, Secretário Municipal de Agricultura, do sr. Valcir Tres, coordenador dos Aposentados do STR, do sr. Giovani André Endres, do Conselho de Assuntos Econômicos da Paróquia, do sr. Emerson Vian, da Cresol, da sra. Mari Teresinha Maule, do ITEPA-Movimentos Sociais e do sr. Sadi Giacomin, da agricultura familiar “nostro Lavoro”, de Dois Lajeados.
Na fala de a acolhida o presidente do STR, sr. Fernando Marcolin, parabenizou a Igreja Católica por ter proposto e convocado esta discussão, e salientou da sua validade por se tratar de assuntos relevantes, em especial em tempos de pandemia. A seguir foi feita uma apresentação da proposta da 6ª Semana Social Brasileira aos participantes e abriu-se a mesa de conversas sobre a primeira das temáticas, a da Terra. As conversas giraram em torno das duas questões propostas: identificar os problemas relacionados à terra e, ao mesmo, tempo apontar as ações alternativas que estão sendo desenvolvidas em nossa região. Durante mais de duas horas os participantes se detiveram sobre o assunto apontando os problemas e desafios e ao mesmo tempo as inúmeras iniciativas que estão sendo gestadas graças à participação e protagonismos de entidades e movimentos que atuam em relação aos que detém o poder de gestão pública nas suas diferentes esferas.
Os participantes frisaram a importância, no que diz respeito à produção agrícola, de se buscar a redução gradativa de venenos e agrotóxicos, bem como a utilização do manejo que vá reduzindo e introduzindo novas formas de produção baseadas nos princípios da agroecologia. Sugeriram a criação de políticas públicas priorizando tais ideias e projetos. Enfatizaram a importância de se fortalecer a soberania nacional, que não sejamos somente produtores de sementes, mas também desenvolvamos tecnologias de produção de sementes e de manufatura de nossos produtos.
2ª RODA DE CONVERSAS: TETO E TRABALHO
No dia 07 de junho foi realizada a segunda Roda de Conversas, desta feita com a participação também do arquiteto, pesquisador e professor André Melati, da Secretaria Municipal da Habitação, que situou os participantes em relação à questão da moradia, não apenas em Guaporé, mas em toda a região. Apresentou dados de suas pesquisas na área, apontando carências e demandas em termos de habitação, dentre elas a necessidade do Poder Público investir numa política de habitação que permita à população mais carente ter acesso a ela.
Também foram abordadas as problemáticas, desafios e alternativas relacionadas à questão do Trabalho, em especial dado-se destaque à qualificação da mão de obra e remuneração correspondente, em nosso Município e região.
Todas as contribuições foram incluídas no Relatório de Diagnóstico que será encaminhado ao Articulador das Pastorais Sociais da Arquidiocese, Pe. Daniel Feltes.
Na avaliação dos participantes, trata-se de uma iniciativa que deve ter continuidade, oportunizando um enlace maior da igreja, através da pastoral social, com organismos e movimentos que primam pelo bem estar da nossa comunidade.
Em cada momento deste processo, feito à luz da Doutrina Social da Igreja, esteve presente a figura profética do Papa Francisco que, orientando e conduzindo os cristãos a assumirem-se como “igreja em saída”, continua a dizer que “cada cristão e cada comunidade, todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (A Alegria do Evangelho, nº 20).
Guaporé, 12 de junho de 2021
Diácono Silvio Antônio Bedin
Pastoral Social Paróquia Santo Antônio