A antiga Fazenda Anonni, antes de ser ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) na madrugada do dia 29 de outubro de 1985, possuía uma área de 9,3 mil hectares, capim e algumas cabeças de gado. O latifúndio tinha sido desapropriado em 1972 para assentar remanescentes da Hidrelétrica de Passo Fundo, mas o processo entrou em morosidade na justiça. Treze anos mais tarde, de forma organizada, mais de sete mil pessoas fizeram da Anonni um dos maiores acampamentos do MST no Estado. As primeiras famílias saíram em julho de 1986 para serem assentadas na Fazenda São Pedro, em Eldorado do Sul. A definição de quem ficaria na Anonni ocorreu em 1990, mas as últimas famílias saíram somente dois anos depois.
Luta que gera resultado
A luta não parou por aí. Várias marchas e ocupações, que duraram meses, foram realizadas no Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária (Incra) e na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, com o objetivo de pressionar o governo para desapropriar áreas a fim de assentar famílias acampadas. A luta pela democratização da terra na Fazenda Anonni vitimou Roseli Nunes, que fazia parte do MST e, diante do fato, se tornou mártir e símbolo de resistência em defesa de seu povo.
O local hoje está dividido em sete comunidades, onde vivem 423 famílias. A maioria conta com escola, ginásio de esportes, igreja e espaço de lazer, além de uma delas possuir Posto de Saúde, com atendimento médico e odontológico. Os filhos dos assentados podem estudar da educação inicial até a superior sem precisar sair da área. Através de uma parceria entre o Instituto Educar, o Instituto Federal do Rio Grande do Sul e Instituto Federal da Fronteira Sul, dois cursos são oferecidos: o técnico em agropecuária com habilitação em agroecologia, integrado ao ensino médio, e o curso superior em Agronomia.
Geração de renda
Para garantir trabalho e renda aos moradores foi fundada, em 2006, a Cooperativa Agropecuária e Laticínios Pontão Ltda (Cooperlat), que trabalha com industrialização e comercialização de leite e envolve aproximadamente cem famílias Sem Terra e outras da região. A empresa também atua na assistência técnica com uma equipe de veterinários e agrônomos para fomentar a produção de leite. A Cooperlat recolhe, em média, 200 mil litros de leite ao mês, além de fazer a entrega de produtos ao Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PNAE) em mais de 50 escolas dos municípios de Carazinho, Passo Fundo e Pontão. Outra cooperativa, fruto da luta dos Sem Terra, é a Cooperativa de Produção Agropecuária Cascata (Cooptar), criada em 1990. Nela, quinze famílias trabalham na produção de embutidos, que também são entregue para escolas e mercados da região. Hoje, o frigorífico tem abatedouro com capacidade para abater 100 cabeças de gado e quatro mil porcos ao mês. Na Anonni, as famílias também produzem leite para a Cooperlat e adotaram, como política interna, a produção de alimentos para subsistência, onde o cultivo ocorre de maneira coletiva e cada um colhe, da horta ou pomar, o suficiente para se alimentar.
Saiba mais sobre a 40ª Romaria da Terra
A história da Fazenda Anonni marcou (e ainda marca) a vida de muitas famílias. A 40ª Romaria da Terra, que acontecerá no dia 28 de fevereiro, resgatará a história de pessoas que não se intimidaram diante das dificuldades e fará memória daqueles que lutaram, com muita garra e esperança, para garantir direitos ao seu povo.
Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Passo Fundo
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Colaboração: Liliane Ferenci | PASCOM