Prezados irmãos e irmãs!
Depois de termos meditado sobre o encontro de Jesus com Nicodemos, que tinha ido à procura de Jesus, hoje reflitamos sobre aqueles momentos em que parece que Ele estava à nossa espera precisamente ali, naquela encruzilhada da nossa vida. São encontros que nos surpreendem e, no início, talvez até fiquemos um pouco desconfiados: procuramos ser prudentes e compreender o que se passa.
Provavelmente, foi também a experiência da samaritana, mencionada no capítulo quarto do Evangelho de João (cf. 4, 5-26). Ela não esperava encontrar um homem perto do poço ao meio-dia, aliás, não esperava encontrar ninguém. Com efeito, ela vai buscar água ao poço a uma hora inusual, quando está muito calor. Talvez esta mulher se envergonhe da sua vida, talvez se tenha sentido julgada, condenada, incompreendida, e por isso se tenha isolado, rompendo relações com todos.
Para ir da Judeia até à Galileia, Jesus poderia ter escolhido outro caminho, sem atravessar a Samaria. Teria sido até mais seguro, dadas as relações tensas entre judeus e samaritanos. Ao contrário, Ele quer passar por ali e detém-se diante daquele poço, naquela mesma hora! Jesus está à nossa espera e deixa-se encontrar precisamente quando pensamos que já não há esperança para nós. No antigo Médio Oriente o poço é um lugar de encontro, onde às vezes se arranjam casamentos, é um lugar de noivado. Jesus quer ajudar esta mulher a compreender onde procurar a verdadeira resposta ao seu desejo de ser amada.
O tema do desejo é fundamental para entender este encontro. Jesus é o primeiro a manifestar o seu desejo: «Dá-me de beber!» (v. 10). Para encetar um diálogo, Jesus faz-se ver frágil, para pôr a outra pessoa à vontade, a fim de que não se assuste. A sede é muitas vezes, até na Bíblia, a imagem do desejo. Mas aqui Jesus tem sede sobretudo da salvação daquela mulher. «Aquele que pede de beber, diz Santo Agostinho, tinha sede da fé dessa mulher» (Homilia 15, 11).
Se Nicodemos fora ao encontro de Jesus à noite, aqui Jesus encontra a samaritana ao meio-dia, no momento em que há mais luz. Com efeito, é um momento de revelação. Jesus dá-se a conhecer a ela como o Messias e, além disso, ilumina a sua vida. Ajuda-a a reler de modo novo a sua história, que é complicada e dolorosa: teve cinco maridos e agora está com um sexto, que não é seu marido. O número seis não é casual, mas geralmente indica imperfeição. Talvez seja uma alusão ao sétimo esposo, aquele que finalmente poderá saciar o desejo desta mulher de ser verdadeiramente amada. E aquele esposo só pode ser Jesus.
Quando se dá conta de que Jesus conhece a sua vida, a mulher desvia a conversa para a questão religiosa, que dividia judeus e samaritanos. Isto acontece-nos às vezes também quando rezamos: no momento em que Deus toca a nossa vida com os seus problemas, às vezes perdemo-nos em reflexões que nos dão a ilusão de uma oração bem-sucedida. Na realidade, erguemos barreiras de proteção. No entanto, o Senhor é sempre maior, e àquela samaritana, a quem segundo os esquemas culturais nem sequer lhe deveria ter dirigido a palavra, oferece a mais excelsa revelação: fala-lhe do Pai, que deve ser adorado em espírito e verdade. E quando ela, mais uma vez surpreendida, observa que sobre estas coisas é melhor esperar o Messias, Ele diz-lhe: «Sou eu, aquele que fala contigo» (v. 26). É como uma declaração de amor: Aquele que esperas sou eu; Aquele que pode finalmente responder ao teu desejo de ser amada.
Naquele momento, a mulher corre para chamar os habitantes do povoado, pois é precisamente da experiência de se sentir amado que nasce a missão. E que anúncio poderia ela trazer, a não ser a sua experiência de ser compreendida, acolhida, perdoada? Trata-se de uma imagem que nos deveria fazer refletir sobre a nossa procura de novas formas de evangelizar.
Tal como uma pessoa apaixonada, a samaritana esquece a sua ânfora aos pés de Jesus. O peso da ânfora sobre a sua cabeça, cada vez que regressava a casa, recordava-lhe a sua condição, a sua vida atribulada. Mas agora a ânfora é colocada aos pés de Jesus. O passado já não é um fardo; ela está reconciliada. E é assim também em relação a nós: para ir anunciar o Evangelho, primeiro é preciso depositar o peso da nossa história aos pés do Senhor, entregar-lhe o fardo do nosso passado. Só pessoas reconciliadas podem anunciar o Evangelho.
Caros irmãos e irmãs, não percamos a esperança! Ainda que a nossa história nos pareça pesada, complicada, talvez até arruinada, temos sempre a possibilidade de a confiar a Deus e de recomeçar o nosso caminho. Deus é misericórdia e está sempre à nossa espera!
Fotógrafo: Vatican News
Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2025/documents/20250326-udienza-generale.html