“Não fostes vós que me escolhestes, pelo contrário, fui eu que vos escolhi”. O trecho retirado do Evangelho de João permite compreender a essência da vocação. Chamados por Deus, aqueles que se dispõe a ouvir a voz que vem do alto, doam sua vida e se colocam a serviço. Assim, em agosto, a Igreja celebra as vocações - sacerdotal, diaconal, familiar, religiosa, leiga e do catequista – e convida à reflexão e à oração para que os batizados “sejam fiéis como apóstolos leigos, como sacerdotes, como religiosos e religiosas, para o bem do povo de Deus e de toda a humanidade”.
“O padre não é para si, é para vós”
A frase do padroeiro dos sacerdotes, São João Maria Vianney, - “O padre não é para si, é para vós.” – permite compreender como se dá, na prática, a vocação sacerdotal - celebrada no primeiro domingo de agosto, 04 - e que busca trabalhar em favor do bem do outro. “Munido pelo poder recebido no sacramento da Ordem, o padre torna-se ministro e servidor das coisas que se referem a Deus para o bem das pessoas”, inicia o arcebispo da Arquidiocese de Passo Fundo, dom Rodolfo Weber. “Ser padre é uma construção cotidiana que é feita na intimidade com Deus, na comunhão com a Igreja e no exercício ministerial. O padre passa a vida inteira respondendo ao chamado e reafirmando a escolha radical feita num momento de sua vida”, complementa e acrescenta: “O padre é alguém que segue os passos do mestre Jesus Cristo. Respondeu ao convite ‘vem e segue-me’”, destaca o arcebispo.
Padre mais jovem da Arquidiocese: “Sou muito feliz como padre”
É Jesus quem escolhe o padre e o envia em missão. Em Seu nome, o sacerdote se coloca a serviço da comunidade cristã, na missão de acolher, perdoar, unir, e motivar a vivência da fé. Para o padre Érico Martins, o padre mais jovem da Arquidiocese de Passo Fundo – ordenado em 2018 - a vocação é um chamado de Deus e uma resposta generosa do ser humano. Para ele, esse chamado chegou aos poucos e a resposta foi sendo concretizada através da vivência. “Ao longo do tempo o Senhor foi me cativando, moldando, chamando e conduzindo no meu discernimento vocacional. Não me arrependo de ter dado uma resposta positiva ao chamado do Bom Deus, que apesar da minha pequenez, me escolheu para uma bela e desafiante missão. Posso dizer, sem medo, que sou muito feliz como padre, pois "já não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em mim”, coloca o jovem.
Érico escolheu, como lema vocacional, "Não tenhas medo. Eles deixaram tudo para seguir a Jesus!". Para ele, a frase expressa o compromisso que assumiu como padre. “Sim, hoje existe muitos desafios, como por exemplo: o mundo secularizado em que vivemos e que tenta afastar as pessoas, especialmente os jovens, de Deus. É necessário discernir e colocar nas mãos do Senhor os sinais dos tempos. Nadar contra a corrente, ser o primeiro a seguir e a anunciar Jesus e seu projeto de amor”, enfatiza e acrescenta: “Outro desafio é não ter medo de lançar-se nas mãos do Senhor. É Ele que jamais nos entristece ou abandona. Saber acertar na vocação, seja ela matrimonial, leiga, consagrada ou presbiteral, é, desde já, ser feliz”, completa.
Érico acrescenta, também, que as palavras do papa Francisco são grande inspiração na caminhada como padre, mas, também, para motivar a resposta de tantos jovens para o chamado vocacional. “Deixo meu recado aos jovens a partir do pensamento do desafio do papa Francisco em apostar em grandes ideais. Ele nos diz: ‘Não enterrem os talentos! Apostem em grandes ideais, aqueles que alargam o coração, aqueles ideais de serviço que tornam fecundos os seus talentos. A vida não é dada para que a conservemos para nós mesmos, mas para que a doemos. Queridos jovens, tenham uma grande alma! Não tenham medo de sonhar com coisas grandes!’. Neste sentido, pergunto: você já pensou em sua vocação?”, questiona o jovem.
Frei Laerte Reis: “Sou muito feliz em ser padre”
A felicidade em responder o chamado divino, perceptível na fala do padre Érico, é constante, também, na vida do Frei Laerte Reis – pároco em Não-Me-Toque. Para ele, uma frase de São João Crisóstemo é o grande norte da sua vivência vocacional: “Quem se apaixona por Jesus Cristo perde o direito de viver tranquilo”. Desde criança, Frei Laerte se envolveu com a Igreja – especialmente através do serviço de coroinha. “Fui nove anos coroinha e isso já fez com que eu tivesse uma relação com o sagrado – um sentido de pertença. Também, sempre achei a eucaristia interessante”, inicia. Ele conta que, ao ingressar no Seminário Franciscano, viu sua vida amadurecer a cada dia. “Já se passaram 22 anos desde que saí de casa e percebo que Deus, de fato, tem um propósito pra cada um. Há algo que está reservado e que deve ser exposto pelo bem comum. Somos escolhidos a dedo por Deus”, complementa.
Para ele, a felicidade é constante e intensa. “Eu sou muito feliz em ser padre e, também, por poder, durante uma celebração eucarística, fazer com que o invisível se torne visível. Sou muito feliz pela vocação que Deus me confiou. O meu sim – que dei a Jesus Cristo e a Igreja – é a oportunidade que tenho de falar do que é verdadeiro”, destaca. O Frei acrescenta, assim como Érico, que o principal desafio para o padre é, hoje, o mundo em que vivemos. “O grande desafio, hoje, é estar em um mundo tão rápido como vivemos. Conseguir atingir os corações, apesar das tentações do mundo lá fora – especialmente ligadas ao consumismo – é um grande desafio. Para um sacerdote, falar sobre amor, caridade e esperança é um grande desafio”, coloca. “Está se tornando um desafio porque tudo está tão livre, solto, líquido. Mas... perseverança, força e coragem! Sabemos que no decorrer de toda a história da era cristã, Deus jamais abandonou seu povo. Isso nos dá esperança. Para manter-se vigilante na vocação, é preciso sempre resgatar o primeiro amor, o primeiro encantamento por Jesus Cristo. É preciso cultivar a vocação todos os dias como se fosse o primeiro dia. Com isso, consigo me manter firme e fiel”, avalia.
Apesar dos desafios que encontra, a alegria da rotina diária, do encontro com os jovens, da vivência em comunidade e da partilha do Evangelho são os grandes motivadores do Frei. “Repito: sou muito feliz. Digo que se eu morresse agora, morreria feliz porque faço algo que gosto e que me faz sentir bem”, conclui.
As dificuldades da vocação
Passar pelo processo de discernimento vocacional nem sempre é fácil e, na maioria das vezes, exige atenção, cuidado e reflexão. O desafio é ainda maior para as equipes que trabalham no contexto da animação vocacional. Para o padre Eberson Fontana, coordenador do Serviço de Animação Vocacional da Arquidiocese de Passo Fundo, despertar um comportamento aberto ao discernimento é um dos principais desafios dos animadores. “ O contexto vocacional atual é marcado por fenômenos como o relativismo e a dificuldade de estabelecer decisões para toda a vida”, inicia. “A fé seguidamente entra nesta mesma dinâmica na vida das pessoas. Nesse sentido, a missão da equipe vocacional se torna desafiadora: vai desde a motivação para o aprofundamento da fé, o seu cultivo, a tomada de consciência quanto ao chamado de Deus e o discernimento e cultivo vocacional”, complementa.
O padre explica, também, que, pensando nos diferentes cenários onde atua o SAV, os trabalhos são direcionados para grupos de crianças e jovens e, ainda, para o acompanhamento personalizado, com visitas e encontros no seminário e casas religiosas. “Algumas vezes, as pessoas pensam que basta decidir em suas casas e ingressar com decisão pronta. Por isso, outra missão da equipe vocacional, durante o acompanhamento, é despertar a postura de discípulo, que está aberto ao discernimento da vontade de Deus em sua vida, bem como a mudança de postura, em vista de uma Igreja em saída, que opta pelos mais pobres. A vocação, seja à vida leiga, presbiteral ou religiosa, não é privilégio, mas é serviço”, completa.
Sammara Garbelotto
Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Passo Fundo
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