Aeroporto Lauro Kortz. Passo Fundo. 10h40. Um grupo de padres e leigos segurava uma bandeira do Brasil e outra da Venezuela, lado a lado. Segurava, também, um cartaz: bienvenidos. A acolhida foi direcionada a um outro grupo: 20 venezuelanos, vindos de Roraima, refugiados do seu país de origem, desembarcaram em Passo Fundo para serem acolhidos pelas paróquias e comunidades. O encontro dos dois grupos foi marcado pela emoção da acolhida, pela alegria do encontro e pela esperança de uma vida nova.
Oportunidade de recomeçar
Do Aeroporto, os migrantes se encontraram com as suas novas comunidades na Casa de Retiros, em Passo Fundo, para um almoço. Depois, foram levados para as novas casas. A chegada dos venezuelanos faz parte do projeto Caminhos de Solidariedade, encabeçado pela Diocese de Boa Vista, em Roraima, e apoiado pela Arquidiocese de Passo Fundo que se dispôs a acolher e integrar o grupo. “Fomos sensibilizados para criar um espaço de acolhida. Nos sentimos desafiados e abrimos as portas. É um momento muito especial para nós”, destacou dom Rodolfo Luís Weber, arcebispo de Passo Fundo, que acrescentou, ainda, o desejo de que os migrantes se sintam em casa.
Ele acrescentou, ainda: “Procuramos fazer o que o papa Francisco nos pede: acolher e proteger. Criamos estruturas para que os migrantes chegassem aqui e tivessem onde ficar, fossem ajudados, tivessem espaços para se manter, manter a própria vida. Queremos integrar essas pessoas nas comunidades, que se aproximem e criem contatos”, continuou. “Conforme os caminhos vão sendo criados, cada família e cada pessoa vai encontrar o seu espaço em Passo Fundo e em Gentil. Eles vem para contribuir e colaborar. Não são pessoas que vem apenas para receber. Eles vem para contribuir com seu trabalho, com sua língua, com sua cultura. Eles vem para enriquecer as nossas cidades”, complementou.
Uma nova vida
Em Passo Fundo, as paróquias São Cristóvão, Santa Teresinha, São José Operário e Catedral Nossa Senhora Aparecida providenciaram a acolhida das famílias. Além destas, a paróquia Santo Antônio, em Gentil, também vai receber uma família e um grupo de jovens. “Viemos apenas com nossos sonhos, nossas canções e uma imensa vontade de retribuir a acolhida que tivemos”, colocou Ramón Antônio Cordova Diaz que será acolhido junto com o filho pela comunidade da Catedral.
Ao todo, serão 6 casas – alugadas com recursos advindos do Fundo de Solidariedade e equipadas, com móveis e alimentos, a partir das doações das comunidades - que vão acolher 5 núcleos familiares e, também, o grupo de jovens que veio sem suas famílias. Para o padre Ludgero Mafra, pároco de Gentil – cidade que vão acolher quatro jovens e uma família com duas crianças -, a ação é benéfica para quem chega, mas, especialmente, para a comunidade que acolhe. “Sentimos necessidade de fazer o município sentir a dor dos nossos irmãos da Venezuela. A comunidade respondeu muito bem. Fomos atrás da casa, mobiliamos, as geladeiras estão cheias de comida”, inicia. “Diante da realidade – de dor e sofrimento – quisemos fazer o povo sentir essa dor. Gentil, apesar de ser pequena, tem um coração grande. A comunidade está sentindo a dor do próximo que chegou aqui sem nada. Eu e minha comunidade nos sentimos felizes por acolhê-los”, destaca.
O padre acrescenta, também, que os jovens já têm empregos garantidos. “Em Gentil, temos necessidade de mão de obra. Quando soubemos dessas famílias, pensamos em acolhê-los. Temos empregos disponíveis. Hoje estamos recebendo pedreiro, eletricista, mecânico, professora. Eles terão espaço”, coloca e acrescenta, também, que a chegada de um bebê de cinco meses sensibilizou a comunidade. “Sabemos que na cidade grande a realidade é difícil. Em Gentil, é diferente. Nos deixamos tocar por isso. Sabemos que em cidade pequena é mais fácil para uma criança. As duas crianças – de cinco meses e cinco anos – já estão encaixadas na creche. Todos os jovens estão empregados”, destaca. “Agora, é cuidar da vida e integrar esses jovens na comunidade. A ideia é que eles se sintam parte da vida da Igreja e da comunidade”, conclui.
Yubieska Natacha Hernandez, que será acolhida em Gentil junto com o marido Edgardo e com as duas filhas Millangel e Tatiana, destaca que esta é uma grande oportunidade diante dos problemas da Venezuela. “Estamos aqui trazendo o melhor de nós. Não é fácil, mas estamos muito emocionados. Temos que lutar, lutar para viver aqui”.
Sammara Garbelotto
Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Passo Fundo
imprensa@arquidiocesedepassofundo.com.br