Com o lema “Vivei segundo o Espírito”, tirado da Carta de Romanos, a Arquidiocese de Passo Fundo acolhe a Ordenação Diaconal do seminarista Joelmar de Souza, neste domingo, dia 04 de setembro, às 15h30min, na comunidade São Francisco das Chagas, da paróquia São Vicente de Paulo, em Passo Fundo.
Durante entrevista para a Assessoria de Comunicação da Arquidiocese, Joelmar comentou que “ao todo foram 12 anos de formação. E em todas as etapas houve muitas dificuldades, tensões, provações, mas também alegrias, esperanças, incentivos. Sinto que são diversos os sentimentos que brotam nesta etapa que estou vivendo, mas de modo especial, destaco os sentimentos de gratidão, confiança e prontidão”.
Confira a entrevista completa:
Assessoria de Comunicação: Como surgiu o chamado à vocação sacerdotal em você?
Joelmar de Souza: Olhando para a minha história vejo que o despertar à esta vocação surgiu quando eu tinha 7 anos. Na época, uma equipe vocacional (de padres e irmãs da Congregação dos Missionários de São Carlos-Scalabrinianos) realizou uma visita à escola onde eu estava cursando o ensino fundamental e promoveu um encontro sobre as temáticas da vocação e da missão. Recordo que, durante o encontro, eu sentia algo diferente; aquela temática prendeu a minha atenção; e enquanto a equipe apresentava fotos e imagens das missões realizadas pelos padres junto aos migrantes eu me perguntei: “Por que eu não poderia ajudar aquelas pessoas também?”. Ao final do encontro, a equipe passou um breve formulário para nós preencher com algumas perguntas, dentre elas: “O que você gostaria ser quando crescer?” e eu respondi: “Padre”.
Ao chegar em casa, contei aos meus pais sobre a tarde maravilhosa que tive na escola, e sobre a minha resposta àquela questão. Mas, como eu ainda era criança, acredito que não houve tanta seriedade na acolhida por parte deles e de outras pessoas sobre a “decisão”. Não demorou muito, um dos padres da equipe que viera na escola entrou em contato comigo e a partir daquele momento iniciamos um acompanhamento vocacional.
ASCOM: Como foi sua caminhada na Igreja, antes e durante o Seminário?
JS: Com 8 anos demonstrei o interesse em ser coroinha da Paróquia de minha cidade natal. Ser coroinha foi, para mim, uma experiência de marcante. Além de auxiliar nas celebrações, muitas vezes eu acompanhava um Ministro da Eucaristia na visita aos doentes e idosos. Como a minha presença na comunidade estava sendo constante, logo a Pastoral Vocacional da Paróquia me convidou para participar dos encontros vocacionais que aconteciam todo o primeiro domingo do mês, pela manhã, que os próprios leigos e leigas da comunidade organizavam. Acredito que a participação nesta Pastoral e a presença e testemunho dos leigos foram fundamentais para que eu pudesse amadurecer e fortalecer o desejo de ser padre.
Assim, em 2008, aos 14 anos, ingressei no Seminário, na Congregação dos Missionários Scalabrinianos. Na Congregação, realizei os estudos do Ensino Médio em Passo Fundo-RS (2008-2010); Propedêutico em Jundiaí-SP (2011); e cursei a Faculdade de Filosofia, em Curitiba-PR (2012-2014). Em 2014, entrei numa intensa crise, abalando as dimensões existencial, psicológica e vocacional. Nisto, ao final daquele ano, regressei à casa de meus pais e, por não estar bem, desconsiderei o ideal de continuar no Seminário.
Estando em casa, tive a oportunidade de trabalhar, ajudar meus pais e estudar. No que se refere ao trabalho, exerci a função de secretário paroquial de minha cidade. Esta é outra experiência que me possibilitou um crescimento humano e vocacional. Aos poucos fui me inserindo novamente na vida comunidade, auxiliando nas pastorais, movimentos e tendo um contato mais próximo com o povo. Mas, no ano de 2016, recebi o convite para fazer um retiro com um dos movimentos da Paróquia. Depois de muita resistência, aceitei o convite e ao participar consegui silenciar novamente, repensar minha história, me reconciliar com ela e perceber que, embora eu sufocasse e fugisse de querer ser padre, aquilo ainda estava dentro de mim. No ano seguinte, realizei outro retiro e neste decidi parar de resistir, de fugir de mim mesmo e atender a voz de Deus que nunca deixou de chamar. Assim, em 2018 ingressei na Arquidiocese de Passo Fundo, já na etapa da Teologia.
ASCOM: Como foram os anos de preparação para este momento e qual o sentimento ao se tornar Diácono?
JS: Ao todo foram 12 anos de formação. E em todas as etapas houve muitas dificuldades, tensões, provações, mas também alegrias, esperanças, incentivos. Sinto que são diversos os sentimentos que brotam nesta etapa que estou vivendo, mas de modo especial, destaco os sentimentos de gratidão, confiança e prontidão. Gratidão, pois toda a vocação é um dom de Deus e quando falamos de dom entendemos que é graça recebida. Nesse sentido, sinto a gratidão ao Senhor por Ele me ter confiado este dom. Mesmo com meus limites, Ele não desistiu de lançar seu olhar sobre mim e me chamar.
Já o sentimento de confiança se refere à confiança em Deus, de que Ele nunca nos abandona em nosso caminho. Confiança que Ele envia seu Espírito para estar conosco nos momentos mais difíceis de nossa caminhada, nos apontando a direção para seguirmos no caminho do Filho. E por fim, o sentimento de prontidão, pois ser diácono é ser servidor. É estar a serviço: a serviço do anúncio da Palavra; a serviço da Mesa da Eucaristia; a serviço do cuidado para com os irmãos e irmãs mais pobres; a serviço da construção do Reino de Deus e de sua justiça.
ASCOM: Qual seu lema e o significado?
JS: Como lema escolhi aquilo que São Paulo afirma em sua Carta aos Romanos: “Vivei segundo o Espírito” (Rm 8,4). Este lema brota de uma análise de minha própria vida e de um processo de conversão de minha espiritualidade. Percebi que, em muitas ocasiões, eu não agia segundo o Espírito de Deus, mas segundo um espírito individualista, um espírito autossuficiente, um espírito desencarnado da vida dos pobres. O processo de Configuração me fez enxergar que a espiritualidade que me movia não estava de acordo com a espiritualidade do seguimento a Jesus Cristo.
Nesse sentido, o lema expressa o compromisso de viver segundo o Espírito de Deus, segundo o Espírito de Jesus. Segundo aquele Espírito que nos faz ser um sinal de Sua presença neste mundo; que nos faz rejeitar o “mundanismo espiritual” que nos lança para o indiferentismo, para a autorrealização, para o consumismo, para o endeusamento do mercado e do dinheiro, para o desejo de ter mais, para o hedonismo, enfim, para a busca pelo poder.
ASCOM: Qual a mensagem de Cristo que você quer trazer para o Povo de Deus nesta nova etapa de formação?
JS: Seguindo este propósito de viver segundo o Espírito, espero que a mensagem mais autêntica e verdadeira seja através do testemunho. Nesse sentido, desejo agradecer ao Povo de Deus de nossas comunidades que nos ajudam a permanecer fiéis à missão que Deus nos confiou e espero que consigamos caminhar juntos, na continuidade da construção do Reino de Deus.
Amanda Nascimento
Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Passo Fundo
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