Aos 25 anos, Victória Holzbach – jornalista e leiga da Arquidiocese de Passo Fundo – decidiu ir além da palavra e buscou, através da ação, viver o amor de Deus: enviada, em setembro de 2016, para Moma, no norte de Moçambique, Victória – que é natural de Passo Fundo e já participou de grupos de jovens na Catedral Nossa Senhora Aparecida e atuou, também, no Setor Juventude e na Assessoria de Comunicação da Arquidiocese – completa oito meses de missão com a certeza de que vale a pena dedicar compaixão e empatia àqueles que, ainda que diferentes, estão unidos pelo mesmo desejo de construção de um mundo melhor.
“Acredito que um mundo muito melhor se constrói quando somos capazes de compreender com compaixão e empatia a cultura, a religião, os costumes, as opções e os contextos sociais, políticos e históricos de um povo.”
Igrejas Solidárias
Mantido pela Igreja Católica do Rio Grande do Sul há 24 anos, o projeto Igrejas Solidárias se propõe a ser um apoio à Arquidiocese de Nampula, em Moçambique. É de lá que Victória e os padres Domingos Rodrigues (Diocese de Bagé), Atílio Zatycko (Diocese de Cachoeira do Sul) e Luiz Alves (Diocese de Itabuna - BA) organizam e vivem a missão. “Daqui, nos deslocamos para mais de 150 comunidades nas duas paróquias que atendemos. Algumas destas comunidades se distanciam até 110 km de nossa casa, em estradas precárias cortadas por rios e matos. Ainda há aquelas comunidades em que só é possível chegar com bicicleta ou passo a passo. Mas estes caminhos desafiadores também complementam a nossa alegria na missão”, comenta.
Além da religião
A vivência em uma cultura diferente permite compreender a missão além do aspecto religioso. “Aqui, o nosso projeto missionário também se preocupa em ir além do atendimento religioso e sacramental. Atentos à realidade social do povo local, desenvolvemos alguns projetos sociais na Vila de Moma, como uma Biblioteca Comunitária, uma Associação de Fotocopiadoras, um projeto de alfabetização e reforço escolar para crianças e adultos, acompanhamento nutricional para recém-nascidos e produção e distribuição de remédios naturais”, relata. “Nossos dias têm tudo, menos rotina. Muitas vezes fazemos planos para o dia seguinte, que são alterados por inúmeros motivos. Ou falta energia, ou o carro estraga, ou surge alguém que precisa de ajuda, ou chove muito e bloqueia a estrada.”
Simplicidade
A realidade que encontrou em Moma se difere bastante da realidade encontrada por aqui. E é justamente nessas diferenças, que Victória encontra ânimo para a missão. “Sempre acreditei muito mais no coração das pessoas do que naquilo que aparentam ser. Por isso a simplicidade daqui me encanta. É um país pobre, com pessoas pobres, em sua maioria camponeses. Nossas ‘roupas de andar em casa’ aí são ‘roupas de ir na missa’ por aqui. Para as crianças, em casa há pouco para fazer. Não há caixa de brinquedos, carrinhos, bonecas, videogames, televisão ou tecnologias. Brinquedo é aquilo que se acha na rua, se (re)constrói, se (re)cria. As crianças que vão à escola são poucas e as motivações para irem menores ainda.”
“São todos muito humildes e desprovidos até do básico para viver, o que faz com que qualquer coisa pequena seja sinal de alegria. Isso torna a vida muito mais simples, porque nos faz perceber o que é realmente essencial.”
Alegrias, desafios e esperanças
Apesar de desafiadora, a missão é, também, guiada pela oração e pelo apoio daqueles que acreditam ser possível proporcionar um caminho de esperança para aqueles cuja vida é repleta de dificuldades. “As alegrias, desafios e esperanças da missão nos movem e nos fazem seguir caminhando. Neste caminho, esperamos não estar sozinhos. Contamos sempre com as orações daqueles que fogem de uma Igreja tranquila e sonham e lutam por uma Igreja missionária, que arrisca se acidentar para ir ao encontro de suas ovelhas”.
Gestos concretos: Coleta de Pentecostes
E a construção desta Igreja em saída acontece não apenas por aqueles que se deslocam, mas, também, por gestos concretos que fortalecem a missão. Uma das celebrações mais importantes do calendário litúrgico cristão católico, a Festa de Pentecostes lembra a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos, Maria e outras mulheres, reunidos no cenáculo, em oração. Celebrada 50 dias depois da Páscoa, a data é, também, um marco para o início da Igreja e oportunidade para os cristãos darem continuidade à missão do Cristo.
Hoje, a Igreja do Rio Grande do Sul se utiliza da Coleta de Pentecostes para atingir tal objetivo: com a finalidade de manter e fortalecer o Projeto Igrejas Solidárias com o envio e sustento dos missionários, a coleta é destinada, também, para as formações, encontros missionários entre as Dioceses do Regional Sul 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e incentiva e colabora com projetos missionários na Amazônia. Assim, a coleta – que é realizada no Domingo de Pentecostes, 04 de junho -, é integralmente enviada para a Animação Missionária da Igreja no Rio Grande do Sul.
Para Victória, é a oportunidade de concretizar, ainda que aos poucos, a ideia de um mundo diferente. “O Espírito Santo que nos fortalece e nos anima, também nos impele a oferecer aquilo que temos. Contamos com a sua sensibilidade e colaboração porque partilhamos da crença de que uma Igreja Missionária é verdadeira testemunha da misericórdia e do amor. O melhor lugar do mundo é onde somos capazes de ser amantes e amados. Ousemos sempre amar. Seguimos juntos, em ação missionária pela vida e pelo novo mundo que acreditamos.”
Sammara Garbelotto
Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Passo Fundo
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