Com o lema “Em tuas mãos, Senhor, para que todos tenham vida”, tirado do Evangelho de João (10,10), a Arquidiocese de Passo Fundo acolhe a Ordenação Diaconal do seminarista Dalcinei Sacheti, nesta sexta-feira, dia 30 de setembro, às 19h, na paróquia Nossa Senhora da Glória, em Carazinho.
Segundo Dalcinei, a escolha do tema foi feita a parte da lembrança que todos estamos nas mãos de Deus “Nós cristãos acreditamos que Deus é a origem de tudo, é o criador de tudo. Saber reconhecer que precisamos de Deus para nos guiar em nossa caminhada nos coloca em sintonia mais profunda. Deus Criador, Libertador, Salvador é o Senhor de nossas vidas, mas um Senhor que nos dá liberdade, de fazermos nossas próprias escolhas”.
Assessoria de Comunicação: Como foi sua caminhada na Igreja, antes e durante o Seminário?
Dalcinei Sacheti: Minha família sempre foi bastante ligada à Igreja. Quando eu era criança, meu avô materno tinha uma camionete, éramos três famílias e íamos todos juntos nas missas, participávamos de todas as missas mensais. Meu pai sempre foi muito colaborativo quanto aos trabalhos em função da comunidade. Minha mãe fazia parte de um grupo de franciscanos leigos chamado Ordem Terceira Franciscana Secular. Foi nesse ambiente que eu cresci, um ambiente de tradição católica. Na catequese, lembro que um dia o Pe. Valter Baggio veio acompanhar a nossa turma e falou do texto da multiplicação dos pães. Não lembro qual texto foi, porque existe mais que um nos evangelhos. Mas me encantou a explicação que ele deu, que o milagre não era uma mágica e sim a necessidade de partilhar o pão e a vida. Quando estávamos nos preparando para a Primeira Eucaristia a turma foi provocada a se colocar a serviço da comunidade e eu me senti chamado a colaborar. Comecei a ajudar na Equipe de liturgia, era muito difícil para mim, por ser uma pessoa muito tímida, mas eu sentia que devia continuar.
Durante o tempo do seminário fiz o esforço possível para me engajar. É claro que é uma realidade diferente, você precisa seguir as orientações da equipe de formação. A partir do terceiro ano do ensino médio os seminaristas acompanhavam as atividades de alguma comunidade nos finais de semana. Assim também no curso de filosofia e teologia. Sempre foi um desafio para mim me integrar por minha personalidade introvertida, às vezes era algo frustrante não poder colaborar muito, apenas estar presente. Mas lembro de experiências marcantes com um grupo de jovens no bairro São José, em 1999 e com a comunidade São Sebastião também no bairro São José.
Eu saí do seminário em 2002 e me afastei da Igreja por algum tempo, por uns 4 anos, nem participava das missas. Mas a partir de 2006 fui retornando. Outra experiência marcante aconteceu nos anos de 2015 e 2016, com o curso de Extensão em Teologia que a Itepa Faculdades ministrou para leigos, em Tapejara. Foi uma experiência que me fez querer voltar para o seminário. Depois destaco as atividades pastorais nas comunidades Santo Antônio da Vila Ricci, São João Bosco do bairro Santa Marta e na Comunidade São Lucas no Bairro Industrial, todas em Passo Fundo. Quando eu ia para casa procurava ajudar na comunidade Nossa Senhora do Rosário em Vila Lângaro.
ASCOM: Como surgiu a vocação em você?
DS: Desde cedo queria ser Frei Capuchinho, influenciado pela espiritualidade franciscana da família e porquê de Vila Lângaro surgiram vários Freis Capuchinhos, os irmãos Costela e também o Frei Ari Tognon. O Pe. Adalíbio, quando era animador vocacional, passou na escola em que eu estudava e os colegas disseram que eu queria ser padre. Ele me colocou em contato com o animador vocacional dos Capuchinhos, por um tempo me correspondi por carta. Mas minha mãe ficou doente e eu fiquei em dúvida sobre o que fazer, se ficava em casa dando um apoio para a família ou entrava para o seminário, sabendo que só poderia voltar para casa para ver meus familiares no final do ano. Numa outra visita do Pe. Adalíbio na escola Marquês de Maricá, em Vila Lângaro me convidou para conhecer o seminário Nossa Senhora Aparecida, em Passo Fundo. Sabendo que eu poderia retornar para casa mais vezes, isso me motivou e aceitar o convite, mesmo sentindo que estava traindo um ideal. Mas vejo que não foi uma decisão errada.
No seminário os seminaristas, já no ensino médio tinham a escola do evangelho com o Pe. Nelson Tonello, o estudo dos textos bíblicos fortaleceu e me ajudou a amadurecer minha vocação.
ASCOM: Como foram os anos de preparação para este momento e qual o sentimento ao se tornar Diácono?
DS: Para mim é mais um passo. Sempre pensei assim, principalmente depois que retornei para realizar a etapa da Configuração, nesses últimos 5 anos. Cada semestre, era uma etapa vencida, com oração, aprofundamento do que Deus quer de mim, de desafios, de me colocar a serviço. Muitas vezes surgiram as dúvidas, a pergunta: “será que é isto que Deus quer de mim?” me ajuda a colocar os pés no chão e a resposta eu preciso dar. Mas é preciso responder a cada dia e pensar que amanhã terei que dar novas respostas. Não considero o fim de uma caminhada, mas apenas dando mais um passo de um caminho que preciso trilhar a vida inteira.
ASCOM: Qual seu lema e o significado?
DS: Meu lema: “Em tuas mãos, Senhor, para que todos tenham vida”. Lembra que todos estamos nas mãos de Deus. Nós cristãos acreditamos que Deus é a origem de tudo, é o criador de tudo. Saber reconhecer que precisamos de Deus para nos guiar em nossa caminhada nos coloca em sintonia mais profunda. Deus Criador, Libertador, Salvador é o Senhor de nossas vidas, mas um Senhor que nos dá liberdade, de fazermos nossas próprias escolhas. “Para que todos tenham vida” é trazido do evangelho segundo João (10,10).
Nosso Deus é o Deus da vida e a coisa mais bonita que ele nos Deus foi a vida. Nos permite colocar em prática nossa semelhança com Ele, Criador, continuar sua obra da criação. Sendo o Deus da vida ele quer que toda a vida seja respeitada, tenha a sua dignidade, principalmente a vida humana. Não há nada mais valioso do que a vida humana, ela tem um valor infinito porque somos imagem e semelhança de Deus. Assim temos o dever de trabalhar para que toda vida humana seja digna.
Em seguida, no mesmo evangelho Jesus diz: “eu sou o bom pastor” e explica o que significa essa expressão. Ser pastor significa zelar pelas ovelhas, seja nos momentos alegres, seja nos momentos mais difíceis. Curar as ovelhas feridas, encontrar pasto e zelar pela sua vida para que ela seja feliz, conforme a vontade de Deus. O pastor é o que faz isso pelo espírito das pessoas, pelo espírito do povo de Deus, entendendo que espírito não se opõe à vida concreta, mas engloba tudo o que nos move, o que nos motiva, o que nos anima. Num contexto em que muitos caminhos se apresentam diante da vida e tantos estão cheios de armadilhas, prometendo felicidade ilusória, ser pastor é mostrar, iluminar esses caminhos para que as pessoas saibam por onde andar sem se machucar.
ASCOM: Qual a mensagem de Cristo que você quer trazer para o Povo de Deus nesta nova etapa de formação?
DS: A mensagem do Evangelho. Deus se faz ser humano em Jesus Cristo e se coloca como servidor de todos. Ele diz, “amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado”. Eis o que ele nos pede, é uma expressão que carrega o ser comunidade, ter unidade para que a vida aconteça, carrega a fraternidade, carrega a necessidade de pedir e dar o perdão, carrega a caridade que, no fundo significa sempre estar abertos para cuidar do outro, naquilo que ele precisar, buscar entender o sofrimento do outro e ajudá-lo a curar as suas feridas.
Somos cristãos e precisamos buscar fazer a experiência de Jesus Cristo em nossas vidas e seguir o que ele nos ensina. É uma caminhada que precisa ser cultivada a vida inteira, pois vivemos num contexto que diz que cada pessoa deve ser independente, aponta para cada um construir a vida sozinho, centrado em si mesmo, mas isso fere a humanidade de cada um porque nenhum ser humano vive sozinho, precisamos das outras pessoas para nascer e até na hora de nossa morte. Ao invés de procurar ser independente as pessoas precisam ouvir a Deus que tem um plano de amor e seguir o seu filho Jesus Cristo que também é Deus, mas preferiu contar com as pessoas para continuar a sua missão. Ele tem um plano de amor e nos ensina a ser felizes uns com os outros.