PEREGRINOS DE ESPERANÇA
Saudações fraternas em Jesus Cristo: bispos, presbíteros, seminaristas, religiosos, povo de Deus.
Gostaria de fazer a homilia dentro do Ano Jubilar. Por isso, em primeiro lugar, convido para elevarmos a Deus um canto de louvor e júbilo pelas maravilhas operadas por seu amor. Estamos vivendo o Ano Santo, Ano Jubilar – Peregrinos de Esperança – por que “A esperança não decepciona”. Quem não nos decepciona é Jesus Cristo.
Há 2025 anos ressoou em Belém a notícia da encarnação de Jesus Cristo gerando imediatamente alegria e esperança nas pessoas próximas e progressivamente foi se espalhando pelo mundo. Esta notícia chegou a nós.
Recordo as palavras do Doc. de Aparecida, 29: “Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com a nossa palavra e obras é a nossa alegria”.
Objetiva o Ano Jubilar: “Que possa ser, para todos, um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus “porta” de salvação; com Ele, que a Igreja tem por missão anunciar sempre, em toda a parte e a todos, como sendo a “nossa esperança”.
Saímos de tantos lugares e aqui nos encontramos, porque todos encontramos Jesus Cristo e temos a alegria de anunciá-lo. Também rendemos graças a Deus pela vida e ministério de cada um que aqui se encontra e por todos nós juntos que partilhamos a mesma fé na presença viva de Deus na história.
O logotipo do Jubileu visibiliza que somos conduzidos pela cruz do Salvador e navegamos abraçados. Não somos errantes ou estamos à deriva no mar da vida, nem na missão, nem na Igreja. Somos peregrinos conduzidos por quem não nos decepciona.
PEREGRINOS
Como segundo aspecto recordo que todos somos peregrinos. Mesmo que tenhamos o desejo constante de termos alcançado a meta e acharmos que deva haver momentos definitivos no mundo. Porém, nada há de mais verdadeiro que a vida das criaturas humanas, a vida cristã, o nosso ministério é uma peregrinação, é um seguimento ininterrupto daquele que nos ama e nos chamou.
Nos recorda a Bula Jubilar: “A vida cristã é um caminho que precisa também de momentos fortes para nutrir e robustecer a esperança, insubstituível companheira que permite vislumbrar a meta: o encontro com o Senhor Jesus. Não é por acaso que a peregrinação representa um elemento fundamental de todo evento jubilar. Pôr-se a caminho é típico de quem anda à procura do sentido da vida. A peregrinação a pé favorece muito a redescoberta do valor do silêncio, do esforço, da essencialidade”. Hoje é um momento forte, um momento necessário.
A dura realidade de tantos fatos torna imprevisível o amanhã do mundo e da Igreja, levam ao medo, ao desânimo, à dúvida. Coloquemos diante de nós a história e como nela Deus agiu. Desde a primeira crise no paraíso, Deus não abandonou as criaturas ao poder da morte, mas dá início a história de salvação. Ele usou e usa inúmeros meios para fazer de suas criaturas peregrinos guiados ao Reino definitivo. Deus sempre precisou e precisa de testemunhas de esperança. A Sagrada Escritura apresenta alguns personagens de peregrinos exemplares. São exemplares, mas a Escritura não esconde suas fragilidades, basta recordar a história de São Paulo, cuja Carta ao Romanos destacamos neste mês da Bíblia.
Celebramos hoje a natividade de Maria. “Ela é a testemunha mais elevada de esperança e de peregrina. Ela é a stella maris, um título que expressa a esperança segura de que, nas tempestuosas vicissitudes da vida, a Mãe de Deus vem em nosso auxílio, apoiando-nos a ter fé e a continuar a esperar”, no ensina a Bula jubilar. Por meio do Sim de Maria, a esperança dos milênios se tornou realidade. Ela acompanhou Jesus Cristo do início da sua vida, no seu ministério até a cruz e a ressurreição. Também estava presente em Pentecostes em meio aos discípulos como sua Mãe, como mãe da esperança. Ela nos ensina a crer, a esperar, a amar e a caminhar sempre em todas as circunstâncias da vida pessoal e eclesial. Pedimos que ela nos guie no caminho.
A Igreja nos apresenta novos exemplos. No dia 16 de novembro de 2024 o Papa Francisco pediu que a partir do Jubileu, se celebrasse no dia 09/11 – festa de Dedicação da Basílica de Latrão -, nas Igrejas particulares a memória dos seus santos, beatos, veneráveis e servos de Deus, isto é, dar destaque aos que são deste chão que pisamos e que “deixaram um testemunho marcante da presença do Senhor ressuscitado e que continuam sendo guias seguros em nossa caminhada rumo a Deus”. Eles não foram perfeitos, mas o conjunto da vida deles lhes deu fama de santidade, nos ensina a Gaudete et Exsultate. Fomos convidados para vivermos este dia como peregrinos, neste lugar onde um pároco, fez muitos erguerem a cabeça e caminharem.
Sem muito esforço podemos encontrar fiéis leigos, religiosos e religiosas, colegas de ministério presbiteral e episcopal, que fazem parte da multidão de santos e santas celebrados no Dia de Todos os Santos. Seu testemunho merece ser reconhecido, sejam eles vivos ou falecidos. É uma santidade encarnada na realidade cultural e eclesial de cada povo, que continua a iluminar o caminho da Igreja com o brilho das virtudes evangélicas.
As testemunhas bíblicas e os santos construíram sua vida em meio às vicissitudes do seu tempo e no seu lugar. Foram contemporâneas ao seu tempo, nem saudosistas do passado inexistente e nem de um futuro idealizado. Viveram as virtudes no tempo presente construindo o Reino de Deus.
ESPERANÇA
A terceira palavra é esperança. “Todos esperam. No coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expectativa do bem, apesar de não se saber o que trará consigo o amanhã”, ensina-nos a Bula. Desde a época moderna novas esperanças humanas foram despontando: a fé na ciência, na indústria, na razão, na liberdade, novos modelos econômicos e de organização dos Estados. Uma esperança depositada no progresso que iria superar todas as limitações humanas construindo o reino feliz e definitivo dos homens.
O Concílio Vaticano II pediu que estivéssemos atentos aos sinais dos tempos. Nos damos conta que estamos vivendo uma MUDANÇA DE ÉPOCA desencadeada por uma série de fatores, alguns acima mencionados. Mudanças que afetam a realidade como um todo. Mudam particularmente os critérios de compreensão e julgamento da vida.
É verdade que vivemos numa mudança de época, de mudanças de “critérios de compreensão e julgamento da vida”. Me pergunto, não é exatamente isto que toda Escritura propõe? Este não foi o motivo da encarnação do Verbo – mudar a compreensão da vida, dar novos critérios de ver os fatos, de compreender a vida, a relações humanas, provocar mudanças estruturais no mundo? Promover mudança de época?
Esta foi a missão de Jesus. Ele a confiou aos apóstolos e a todos que o seguissem: promover através do Evangelho, de forma permanente, uma mudança de época. O que temos a oferecer ao mundo é exatamente isto: Anunciar o Evangelho da salvação. Não fomos enviados para sermos juízes do mundo, mas sermos evangelizadores.
As esperanças humanas, também necessárias e que encantam, serão sempre humanas e limitadas. Não conseguirão realizar plenamente o que prometem. Neste contexto de mudança de época vamos ser testemunhas de esperança como é o sal e fermento. Porções pequenas, diante do todo, mas insubstituíveis, necessárias. Somos um pequeno rebanho, mas necessário e insubstituível porque anunciamos Jesus, a “esperança que não decepciona”.
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Fotógrafo: Pascom Arquidiocesana
Fonte: Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo