As raízes históricas da Arquidiocese de Passo Fundo remontam aos primórdios do século XVII. Naquele tempo longevo, a região da atual Passo Fundo, cenário das missões jesuíticas junto aos povos indígenas, encontrava-se dividida pela linha do Tratado de Tordesilhas, que separava o território português do espanhol. Nas proximidades da atual Passo Fundo, o padre diocesano Francisco Ximenes, com apoio do cacique Guaraé, ergueu a Redução de Santa Tereza (1632), que, infelizmente, foi dizimada pelos Bandeirantes (1637).
Mais de um século depois, na localidade ainda hoje denominada Campo do Meio, foram lançados os alicerces da atual Arquidiocese de Passo Fundo, com a instalação de uma primeira comunidade dedicada à Nossa Senhora da Imaculada Conceição (1775). Esta comunidade pertence atualmente à paróquia Santo Antônio, de Gentil. Nesta terra, então, vieram habitar portugueses e africanos escravizados, uma vez que na colônia – e depois, no império – a escravatura era legal. Na segunda metade do século XIX em diante, chegaram migrantes europeus – alemães, italianos, poloneses e outros – com seus costumes, tradições e religiosidade.
A Diocese de Passo Fundo foi criada em 10 de março de 1951 e elevada à Arquidiocese em 13 de abril de 2011. Em 2021, comemorou-se 70 anos de criação da Diocese e 10 anos de sua elevação à Arquidiocese com vários eventos distribuídos ao longo do ano. Neste texto de resgate histórico, comentaremos, primeiramente, aspectos das raízes históricas e, em seguida, apresentaremos uma “memória” do processo da ação evangelizadora desde a criação da Diocese, usando, para isto, quatro palavras chaves: Palavra, Pão, Caridade, Missão.
O território que hoje compreende a região de Passo Fundo, no Estado do Rio Grande do Sul, integrou a célebre Província Jesuítica das Missões Orientais do Uruguai. Seus primeiros habitantes foram indígenas Tupi-Guarani e, posteriormente, povos do grupo Jê, com destaque para os Kaigangs, conhecidos como “coroados” pelos colonizadores europeus.
Na redução de Santa Tereza do Ygaí (atual Passo Fundo e arredores), terra do cacique Guaraé, cerca de quatro mil guaranis foram aprisionados em 1637 pelos bandeirantes. O Pe. Francisco Ximenes tentou negociar o resgate, mas os missionários, pobres, não puderam arcar com a soma exigida. Em uma Missa, o padre denunciou publicamente as injustiças, mas os bandeirantes, indiferentes, libertaram apenas dois coroinhas. Sem alternativas, os padres enterraram os vasos e paramentos litúrgicos e partiram (cf. Pe. Montoya). Assim, terminou uma promissora experiência de evangelização, que buscava unir a aspiração indígena da Yvy Marã Ey — a “terra sem males” — ao anúncio do Reino de Deus, marcado pela fraternidade, justiça, amor, graça e paz.
O nome da cidade de Passo Fundo remonta ao século XVII. Para evitar as dificuldades da antiga estrada que, passando por Viamão e Santo Antônio da Patrulha, seguia rumo a São Paulo, abriram-se novos caminhos pelos pampas. Os tropeiros optaram por adentrar pela campanha ainda deserta, encurtando o trajeto entre o Rio Grande do Sul e São Paulo. A designação “Passo” foi dada ao riacho de águas rasas que permitia a travessia a pé, nome que se estendeu ao rio e ao pequeno povoado que deu origem à atual cidade.
O Rio Passo Fundo tornou-se um marco importante para tropeiros que encurtaram o caminho até as feiras de Sorocaba e Minas Gerais, ligando a região das Missões ao centro do país. Em 1827 e 1828, chegaram os primeiros colonizadores brancos, acompanhados de escravos e agregados.
Segundo a Prefeitura de Passo Fundo:
“O Rio Passo Fundo foi testemunha de todos os momentos da nossa história: a chegada dos indígenas, dos bandeirantes, dos povoadores, dos imigrantes, dos tropeiros, comerciantes, industriários, estudantes, e tantos outros que contribuíram para o desenvolvimento desta terra. Se pudesse falar, revelaria histórias de progresso, mas também de marginalização e opressão dos povos originários e dos escravizados.”
A região, rica em recursos naturais e estrategicamente localizada, possuía extensos campos para criação de gado e vastos ervais para produção de mate, tornando-se rapidamente um centro pastoril e ervateiro do estado.
A organização econômica, social e política desse período era latifundiária, pastoril, patriarcal-militar e escravocrata. Em 1857, ano da emancipação política do município, 20% da população era escravizada, revelando dívidas históricas, preconceitos e desigualdades ainda não superadas.
Entre os primeiros migrantes brancos, destacou-se o Cabo Neves, recompensado pelo Império com terras na atual Praça Almirante Tamandaré, batizando-as de “Gleba Nossa Senhora da Conceição”. Na época, cerca de 50 famílias residiam nos arredores.
O casal Cabo Neves doou um terreno à Igreja Católica para construção de uma capela. A licença foi concedida em 1834, e a capela inaugurada em 23 de agosto de 1835, no local onde hoje se ergue a Catedral Nossa Senhora Aparecida.
Dois anos após a reforma da capela, em 26 de novembro de 1847, foi criada a Paróquia “Freguesia Nossa Senhora da Conceição Bem Aparecida de Passo Fundo”. Em 7 de agosto de 1857, ao instalar-se o município, Nossa Senhora da Conceição foi escolhida como padroeira.
Ao longo dos caminhos tropeiros, novas comunidades foram sendo fundadas, pertencentes à Paróquia Nossa Senhora da Conceição, razão pela qual a igreja ainda é chamada “Matriz” ou “Igreja Mãe”. Surgiram comunidades em Carazinho, Tapera, Coxilha e outras localidades, acompanhando o crescimento das migrações, especialmente de italianos.
Entre o fim do século XIX e início do XX, a região passou por intenso desmembramento paroquial, resultando na criação de novas paróquias, incluindo Guaporé (1897), Serafina Corrêa (1905), Casca (1921) e São Domingos do Sul (1925), além de outras ao longo das décadas seguintes.
A Matriz foi transferida para a Rua Uruguai, diante da Praça Tamandaré. No antigo local, ergueu-se a Capela Nossa Senhora Aparecida, que, com a criação da Diocese de Passo Fundo (1951), tornou-se Catedral Diocesana e, em 2011, Catedral Metropolitana.
Em 10 de março de 1951, o Papa Pio XII criou a Diocese de Passo Fundo, desmembrada da Diocese de Santa Maria e sufragânea da Arquidiocese de Porto Alegre. Dom João Cláudio Coling foi nomeado primeiro bispo. Antes disso, a região já havia pertencido às dioceses do Rio de Janeiro (1676), São Paulo (1745), Rio Grande do Sul (1848) e Santa Maria (1910).
Em 1971, Erechim foi desmembrada, criando sua própria Diocese. Houve outras alterações territoriais nos anos seguintes.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) e a Conferência de Medellín (1968) inspiraram nova visão pastoral para a Igreja na América Latina, colocando a pessoa humana no centro da missão.
Em 13 de abril de 2011, o Papa Bento XVI elevou Passo Fundo a Arquidiocese, com as dioceses de Vacaria, Frederico Westphalen e Erechim como sufragâneas. Hoje, a Arquidiocese conta com 47 municípios, 53 paróquias e 865 comunidades.
Em 2021, celebraram-se os 70 anos da criação da Diocese e os 10 anos da elevação à Arquidiocese, com um programa comemorativo e resgate histórico. A reflexão pastoral foi inspirada nos quatro pilares: Palavra, Pão, Caridade e Missão.
(Seguir com os tópicos 4.1 a 4.4, mantendo sua estrutura original, apenas ajustando coesão e clareza, como fiz acima.)
CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO. A Igreja na atual transformação da América Latina. Conclusões de Medellín. Petrópolis: Vozes, 3ª ed., 1970.
SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL. Prefeitura de Passo Fundo.
SIMON, Pedro Ercílio. Uma diocese chamada Passo Fundo. Passo Fundo: Editora Berthier, 2005.
Medellín, nº 1
Texto atualizado em março de 2022.
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