Tesouros misteriosos aguçam a curiosidade. Transformam-se em livros, filmes, jogos, como também em empreendimentos econômicos de busca. Por passatempo e divertimento se organiza a “caça ao tesouro” com uma série de provas a serem superadas para obter o prêmio. Em geral as provas são bem desafiadoras pelos enigmas a serem decifrados ou pelos perigos das armadilhas que servem de proteção do tesouro.
A Palavra de Deus deste domingo, Mateus 13,44-52, fala de tesouro. É o ponto de partida para Jesus ensinar sobre o Reino de Deus. Para encontrar o tesouro e tomar posse dele é preciso usar todas as táticas do imaginário do divertimento: sigilo, investimento, tática, esperteza, procura. Depois disso, a pessoa se sente cheia de alegria e satisfeita com a vida.
O que é um tesouro? Qual o volume? Qual a quantidade de dinheiro que deve valer? O tesouro em geral são coisas. Porém o verdadeiro tesouro pode ser uma pessoa com a qual se pode entrar em relação para programar a existência, trocar sentimentos, partilhar a vida. É bem familiar a expressão “és meu tesouro” dita a uma pessoa a quem se quer bem e que enche a vida de alegria e satisfação e dá sentido para viver.
A liturgia do domingo quem se apresenta como um tesouro misterioso é Deus com seu projeto de vida e amor para as pessoas e a humanidade. Jesus está semeando nos ouvintes o desejo da existência deste tesouro, como também estimulá-los na sua procura. Talvez nunca tenhamos dito a Deus que “Ele é meu tesouro”. Os textos bíblicos do domingo sugerem isto. Se é fascinante o jogo misterioso da “caça ao tesouro”, da mesma forma a busca de Deus sempre é envolta de mistérios que atiçam a curiosidade, a imaginação e a compreensão das indicações para perceber onde se encontra e avançar para a revelação definitiva. Toda a vida cristã é uma grande busca de “caça ao tesouro”, tendo por meta final o encontro com Deus e como etapas intermediárias tantos momentos de intimidade com Ele. É verdade que a alegria plena vem ao final, mas em cada etapa vencida experimenta-se uma fração da alegria total.
Como exemplo de busca ao tesouro a liturgia oferece o texto de 1 Reis 3,5.7-12. Salomão, recém escolhido como rei, tem uma oferta dos sonhos, daquela que se enquadra no mundo da fantasia: “Pede o que desejas, e eu te darei”. Salomão pede: “Um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal”. Pediu “sabedoria para praticar a justiça”. Não pediu “vida longa, nem riquezas, nem a morte dos inimigos”.
Salomão pediu “um coração sábio”. O “coração” na bíblia não indica apenas uma parte do corpo, mas sim o âmago da pessoa, a sede das suas intenções e dos seus juízos. Podemos dizer, é a consciência da pessoa. Ter “coração sábio” quer dizer ter consciência que sabe ouvir, que é sensível à voz da verdade, e por isso é também capaz de discernir o bem do mal. Salomão pede para governar bem.
Para nós “ter um coração sábio” é ter um grande tesouro. Isto é, ter uma consciência para exercer a grande dignidade humana de agir segundo a reta consciência, realizando o bem e evitando mal. Ter consciência moral pressupõe ouvir a voz da verdade, de sermos dóceis às suas indicações. Reconhecendo o bem, separando-o do mal, e procurando pô-lo em prática pacientemente, contribuímos para a justiça e a paz, que é um belo tesouro.
Sob o alucinante jogo das imagens, as parábolas chamam para o valor absoluto e inigualável de Cristo, o verdadeiro tesouro, pelo qual se deve estar dispostos a deixar tudo e segui-lo.