No início da Semana Santa a Igreja convida os fiéis: “Por isso, celebrando com fé e piedade a memória desta entrada, sigamos os passos de nosso Salvador para que, associados pela graça à sua cruz, participemos também de sua ressurreição e de sua vida”. A liturgia do Domingo de Ramos convida para que “sigamos o Senhor Jesus Cristo” (Lucas 19,28-40, Isaías 50,4-7, Salmo 21, Filipenses 2,6-11e Lucas 23,1-49). Ser cristão significa considerar o caminho de Jesus como caminho justo para os homens que conduz a meta de vida plena e autêntica. Ser cristão é um caminho, uma peregrinação, um ir juntamente com Jesus Cristo. Um ir naquela direção que Ele foi. Este caminho e meta nos é vislumbrado no Domingo de Ramos.
A procissão de Ramos é um testemunho de júbilo, de festa que prestamos a Jesus nosso guia e mestre. As pessoas, que no relato do Evangelho, aclamam: “Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!”. Estes discípulos ouviram, conviveram e testemunharam as ações de Jesus, agora precisam expressar gratidão e alegria. Fazem isto de forma solene e simples, “estendendo suas roupas no caminho”, “aos gritos e cheio de alegria”, louvam a Deus “por todos os milagres que tinha visto”.
Hoje louvamos o Senhor pelos prodígios que realiza através das pessoas que acreditam em Jesus Cristo e procuram viver de acordo com os ensinamentos de dele: que se dedicam de forma voluntária ao serviço do próximo; que optam pela vida consagrada; que orientam sua vida moral pelo Evangelho; que promovem a paz; que em nome da verdade desvendam a mentira; que, no segredo da consciência, são movidos a fazer constantemente o bem ao próximo; que suscitam a reconciliação onde há ódio; que cuidam da obra da criação, nossa casa comum; que constroem fraternidade. O seguimento de Jesus vai tocando a essência da vida, ele provoca uma mudança no interior da existência. Impede de fechar-se sobre si mesmo, faz rever constantemente as opções e valores. Leva a escolher entre viver só para si mesmo ou doar-se a Cristo e a sua causa.
Os textos bíblicos da liturgia recordam traços fundamentais do seguimento. O profeta Isaías apresenta um misterioso e profético personagem salvador. Não é um personagem triunfante e juiz, ao modo humano, mas sofredor, desfigurado e que se doa totalmente aos outros. A carta aos filipenses canta que Jesus Cristo, existindo em condição divina esvaziou-se de si mesmo, assumindo a condição de escravo e se fez igual aos homens, inclusive na morte. Por isso, dele deve ser exaltado e proclamado “Jesus Cristo é o Senhor!”
Na narração da paixão e morte de Jesus os discípulos que aclamaram-no e acolherem-no em Jerusalém, o acompanham até a morte de cruz. Estão presentes não como espectadores, mas como discípulos seguindo Jesus até o último e decisivo instante. A Simão, de Cirene, “impuseram-lhe a cruz para carregá-la atrás de Jesus”. Em outra oportunidade Jesus tinha ensinado que quem quisesse ser seu discípulo deveria tomar a sua cruz e seguir atrás dele. Também a multidão se envolve: “Uma grande multidão do povo e de mulheres que batiam no peito e choravam por ele”. Ao final o evangelista registra, “E, as multidões que tinham acorrido para assistir, viram o que havia acontecido, e voltaram para casa, batendo no peito”. Jesus consola dizendo: "Não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos!” Bater no peito é um gesto de arrependimento e pedido de perdão.
Aos discípulos que o contemplam pregado na cruz oferece o exemplo do perdão: “Pai, perdoa-lhes!” Assim se realiza o mandamento de perdoar, ensinado em tantas oportunidades. O sacrifício de Jesus na cruz transforma o mundo através da conversão e do perdão. A conversão abre as portas para a misericórdia. No final Lucas registra. “Todos os conhecidos de Jesus [...] ficaram à distância, olhando essas coisas”. A meditação sobre o mistério salvífico escondido naquele evento é indispensável para colher o significado pessoal e vital para ser cristão.
Fonte: Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo