A liturgia dominical continua com o tema da oração a partir da parábola do fariseu e do publicano (Eclesiástico 35,15-22; Salmo 33, 2 Timóteo 4,6-8.16-18 e Lucas 18, 9-14). Nela se revela o íntimo dos homens que rezam e também Deus, a quem é dirigida a oração. Os destinatários da parábola são “alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros”. Quem são estes alguns? Jesus deixa em aberto. Confiar na própria justiça significa confiar única e firmemente em si mesmo. O “justo” no Antigo Testamento é o homem que cumpre a vontade de Deus e que deposita nele a confiança. Deus é a rocha de apoio e o verdadeiro sustento da existência. Quem “confia na própria justiça” não confia em Deus e nem nos outros, pois só confia em si e todos lhe são devedores.
“Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos”. Antes de qualificar os personagens, Jesus diz que são “dois homens” que vão rezar no Templo. Ambos vão realizar algo bom e no mesmo lugar. Antes de identificar as diferenças é acentuada a unidade, a humanidade e a dignidade comum dos orantes. Na pluralidade das situações humanas faz-se necessário ressaltar, em primeiro lugar, o que une e depois as diferenças.
As orações feitas revelam o interior dos orantes e como se situam diante de Deus e do próximo. O fariseu reza: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de imposto”. Enquanto o cobrador de impostos reza: “Meus Deus, tem piedade de mim que sou pecador!”
Anteriormente os discípulos pediram que Jesus os ensinasse a rezar. Ensinou-lhes a rezar o Pai-Nosso, não como fórmula, mas como modelo de oração. Somos convidados a olhar a oração do fariseu e do publicano e discernir qual delas está em sintonia com o Pai Nosso. Jesus ensinou a invocar a Deus como Pai Nosso, desejar que seja santificado o seu nome, que venha o seu Reino e mais três pedidos: o pão de cada dia, o perdão e o socorro nas tentações. Toda oração é relação e entrega confiante a Deus e empenho de justa relação com os irmãos.
Diante deste critério, percebe-se que o fariseu não faz uma oração cristã. Ele reza diante de si próprio. Está todo cheio de si e centrado no próprio eu, não tem espaço nem para Deus e nem para os outros. Não quer se relacionar com ninguém. Não sente e nem deseja ser ajudado, pois é autossuficiente e ainda se sente autorizado a condenar os outros.
A oração do cobrador de impostos mostra que ele tem consciência que precisa ser ajudado, compreendido e perdoado, tanto da parte de Deus como dos outros. Tem a postura de humildade, pois fica “à distância” e “nem se atrevia levantar os olhos para o céu; mas batia no peito”, num gesto penitencial. A humildade e o desejo de se relacionar com Deus e com o próximo abrem a porta para a humilde prece.
O livro do Eclesiástico ensina que este deve ser o modelo de oração. “A prece do humilde atravessa as nuvens […] e não descansará até que o Altíssimo intervenha, faça justiça aos justos e execute o julgamento”. São Paulo, escrevendo a Timóteo, testemunha como o Senhor o acompanhou na sua missão evangelizadora, o atendeu e consolou. “Mas o Senhor esteve ao meu lado e meu forças; […] O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém”.
A parábola deseja envolver o leitor, somente assim ela ficará completa e terá sentido. Hoje precisamos ler assim: Três homens subiram ao Templo: um fariseu, um cobrador de impostos e eu, o leitor. Somos chamados a identificar-nos com ambos os personagens. Todos precisamos aprender a rezar, somos necessitados de perdão e misericórdia.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo