Os dois movimentos do tempo do advento se refletem naquilo que a própria liturgia deseja preparar os fiéis: a vinda de Cristo no fim dos tempos, que é a dimensão escatológica do advento vivida nas duas primeiras semanas, e a vinda de Cristo no Natal e o mistério da sua encarnação na história humana, a dimensão histórico-salvífica do Salvador.
A comunidade dos fiéis acompanha estes dois movimentos teológicos do tempo do advento através da liturgia da Palavra e do testemunho do profeta Isaías, de João Batista, de Maria e José. Dos dois primeiros personagens, os textos bíblicos falam de esperança, da vigilância e do compromisso de conversão. Dos dois segundos personagens as Escrituras apresentam a participação no mistério da salvação, a aceitação do plano de Deus e a alegre espera do menino que vai nascer.
Refletindo o tema da conversão para o encontro com o Senhor, que será o pedido de João Batista no Evangelho do segundo domingo do advento do ano A, ouve-se o seguinte: “Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo.” (Mt 3,2) O sentido da conversão expresso no convite de João está relacionado a mudança de vida que deve existir naqueles que vão aderir a proposta do Reino dos Céus. Por isso, o gesto do batismo para a conversão é um rito que marca uma vida nova naqueles que vão assumir a dinâmica do Reino dos Céus. É aquilo que tão bem falou o Papa Francisco no dia 6 de dezembro de 2020: “Na Bíblia, significa primeiro mudar a direção e a orientação; e depois também mudar a maneira de pensar. Na vida moral e espiritual, converter meios de passar do mal ao bem, do pecado ao amor de Deus”.
Diante desta explicitação, a mudança de vida que a conversão provoca não é só uma atitude externa ou um ritual para ser cumprido magicamente. João Batista é muito claro para os fariseus e saduceus que o escutavam: “Façam coisas que provem que vocês se converteram” (Mt 3,8). O Papa Leão recorda que os frutos da conversão se transformam em contato profundo com a revelação de Deus em gestos de bondade para com os pobres e sofredores: “É precisamente nesta perspectiva que o afeto pelo Senhor se une ao afeto pelos pobres. Aquele Jesus que diz “Pobres, sempre os tereis convosco” (Mt 26, 11), expressa igual sentido quando promete aos discípulos: “Sabei que Eu estarei sempre convosco” (Mt 28, 20). Ao mesmo tempo, vêm-nos à mente aquelas palavras do Senhor: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40). Não estamos no horizonte da beneficência, mas no da Revelação: o contato com quem não tem poder nem grandeza é um modo fundamental de encontro com o Senhor da história. Nos pobres, Ele ainda tem algo a dizer-nos” (Dilexi te 5).
A conversão verdadeira é acompanhada de uma profunda renovação da vida com frutos de boas obras, os quais evidenciam que o convertido que busca a Deus e o encontra nos irmãos e irmãs sofredores. Que este tempo de advento, mais do que uma época de confraternizações, muitas homenagens, extravagâncias estéticas, uso de símbolos do consumismo e de uma espiritualidade de emoções e sentimentos, este nosso tempo seja uma oportunidade de viver a conversão pessoal ao revitalizar a esperança de quem mais sofre. De ser um sinal de conversão aos pobres e esquecidos, uma ponte de alegria aos desesperados, uma luz para os que vivem na escuridão do pecado, um sorriso para quem está triste, a justiça para os que sofrem a injustiça.
Neste final de ano jubilar, a conversão provocada por João Batista é um profundo diálogo com aquilo que o Papa Francisco exortou na bula Spes non Confundit, número 15: “todos os dias encontramos pessoas pobres ou empobrecidas e, por vezes, podem ser nossas vizinhas de casa. Frequentemente, não têm uma habitação nem alimentação suficiente para o dia. Sofrem a exclusão e a indiferença de muitos. É escandaloso que, num mundo dotado de enormes recursos destinados em grande parte para armas, os pobres sejam “a maioria (…), milhares de milhões de pessoas.” Viver a conversão neste advento do ano jubilar é um desafio sempre novo de mudar de vida radicalmente, para termos em nós “os mesmos sentimentos que haviam em Jesus Cristo” (Fil 2,5), Ele que é a nossa maior esperança!
Pe. Mateus Danieli
foto: Vatican News