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Negros e negras na peregrinação jubilar: história e sinais de esperança

Negros e negras na peregrinação jubilar: história e sinais de esperança

Estamos vivendo o Ano Jubilar, 2025 anos da encarnação do Verbo de Deus. Foi proposta a temática “Peregrinos de Esperança”.

Estamos vivendo o Ano Jubilar, 2025 anos da encarnação do Verbo de Deus. Foi proposta a temática “Peregrinos de Esperança”. O tema é caro à comunidade negra brasileira, porque a sua trajetória no Brasil é marcada pela reconstrução permanente da esperança.

A expressão peregrino tem uma das suas significações originada no termo latino peregrinus, que significa estrangeiro ou aquele que vem de fora. A expressão peregrino, encontrada nos diferentes dicionários, tem sintonia com a trajetória dos negros e negras vindos da diáspora africana, que, diferente de outros grupos sociais, não chegaram aqui por conta própria, mas trazidos dentro da orquestração econômica do projeto escravagista que durou mais de três séculos.

Depois da dureza dos primeiros tempos de adaptação árdua à terra estrangeira e à escravidão, fazia-se necessário reavivar a esperança em uma terra, que primeiramente não fora escolhida para viver, mas a terra do exílio (Sl 137). As lideranças que foram surgindo nas senzalas tiveram que mostrar aos demais os motivos de esperança. Naquele momento, a primeira grande iniciativa era continuar a viver, enquanto muitos se entregavam ao “banzo” e se suicidavam.

O segundo passo do peregrinar na recuperação da esperança passou pelo reavivamento da memória cultural a ser reconstruída em terras brasileiras. Esta perpassava pela alimentação, música, dança, vestes e outras manifestações. Por isso, para os negros, a comida não é apenas ingestão de alimento, sustento físico. Ela é partilha cultural e reconstrução de memória. A dança, conduzida ao toque dos instrumentos de percussão, não é apenas um corpo se mexendo. É o diálogo de corpos e a memória dos ancestrais. Estes elementos culturais, sendo recuperados aos poucos, mesmo que de forma fragmentada, foram muito importantes para sustentarem a esperança dos que vieram da África e para lá não voltaram.

Articulado à dimensão cultural está o reavivamento religioso, e este se deu em duas dimensões. Primeiramente, a partir do espaço da senzala, da retomada dos elementos sagrados do culto originário de matriz africana, assumido no Brasil nas condições que eram possíveis, visto que os negros e negras eram primeiramente proibidos de manifestarem a sua religiosidade, porque não era conhecida a sua estrutura ritualística. Também porque era de interesse que todos os negros e negras se batizassem e se fizessem cristãos católicos.

Todavia, mesmo na clandestinidade, a religião de matriz afro-brasileira foi fundamental como fomentadora de esperança a partir do sagrado. Por outro lado, aqueles negros que se fizeram cristãos viram em Jesus Cristo um caminho de espiritualidade válido para as suas vidas e mergulharam definitivamente na fé cristã, assim como aqueles cristãos dos primeiros séculos, vendo em Jesus as razões de suas esperanças. Para eles Jesus Cristo fez-se grande esperança, tornou-se esperança (1Tm 1,1).

 

Não é possível também desconhecer a articulação social protagonizada por lideranças negras e construída ao longo dos séculos como grande fator de esperança. Começou na senzala, na teimosia em viver, como descrito acima. Passou pelas irmandades, confrarias, luta quilombola e, de forma mais densa, na articulação pelo fim da escravidão. A esperança se configurava em uma realidade de viver livre, sem trabalho forçado e sem senhores vigiando e lucrando às custas do suor de homens e mulheres negros. Nessa esperança construída com luta e articulação, os negros foram protagonistas.

Hoje, o desafio de promover a esperança indica o enfrentamento das situações de racismo estrutural e discriminação, ainda visíveis na sociedade. Este enfrentamento é necessário porque enraíza a esperança na luta em vista de uma terra sem males, onde a diversidade étnica e cultural é vista como riqueza e não como fator de menosprezo.

Jesus Cristo aponta este caminho, pois Ele encarnou-se para que todos tivessem vida em abundância (cf. Jo 10,10).

Ms. Pe. Ari Antonio dos Reis
Professor da Itepa Faculdades
Coordenador do Grupo de Pesquisa “Teologia, negritude e sociedade”

Negros e negras na peregrinação jubilar: história e sinais de esperança

Fotos: Arquivo Itepa Faculdades e Recorte da capa do LP Missa dos Quilombos.

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