Estamos fazendo a travessia da peregrinação Quaresmal neste ano que é também marcado pela celebração jubilar sob o lema “peregrinos da esperança”. A expressão quaresma vem do termo latino quadragesima, que significa "quarenta dias". É um tempo especial que convida à intensificação de três exercícios importantes da tradição cristã, a caridade (esmola), oração e jejum. Como orientação de espiritualidade se consolidou no século IV d.C. decisão do Concílio de Niceia.
O sentido da quaresma
O sentido da quaresma tem força pela sua profunda densidade espiritual, aquilo que ela proporciona em si, o caminho da conversão, como expressa o profeta Joel: agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (cf. Joel 12, 12-13). Cabe lembrar que estes exercícios têm força maior superando o perfil intimista. Para compreendermos a profundidade da espiritualidade quaresmal ajuda a chamada de atenção do profeta Isaías, especialmente sobre o jejum: o jejum que agrada a Deis é: repartam seu alimento com os famintos, ofereçam abrigo aos que não têm casa. Deem roupas aos que precisam, não se escondam dos que carecem de ajuda. “Então sua luz virá como o amanhecer, e suas feridas sararão num instante. Sua justiça os conduzirá adiante, e a glória do Senhor os protegerá na retaguarda (cf. Is 58,7-8).
Mas a quaresma aponta para a Páscoa. É o seu sentido mais profundo e perfeitamente traduzido pelos evangelistas na narrativa da Transfiguração (Mt 17,1-8; Mc 9,2-8; Lc 9,28-36) quando relatam o final glorioso de Jesus Cristo, a vida ressuscitada. Ao final da peregrinação de quarenta dias chegaremos à Festa da Páscoa. Celebraremos, no sentido de tornar célebre a ressurreição do Senhor, a vitória da vida sobre a morte, o sim definitivo sobre Jesus e também sobre todos os homens e mulheres de fé.
Quaresma e esperança
A peregrinação quaresmal tem o acento na esperança. Ela é um dado antropológico. O ser humano tem esperança. Esta o faz mover-se no mundo. O teólogo João Batista Libânio no “artigo utopia e esperança cristã”, assinala que às vezes, utopia e esperança estão muito próximas na medida em que provocam a buscar um futuro melhor. Todavia, a utopia se funda na força humana e a esperança na ação do divino.
Para os cristãos, a esperança se funda na ação de Deus. Deus é o motivo de esperança. Em Deus nos esperamos. Então para os cristãos, há esperança. Sempre há esperança. Nas palavras de Paulo, esperamos contra toda a esperança (Rm 4,18), isto é, conservamos a esperança mesmo quando parece não haver nenhum sinal de esperança (Alberto Nolan 2012). Por isso, o tempo da quaresma tem o acento da esperança.
Rezamos esta certeza de forma profunda no Advento quando olhamos para o futuro, celebrando a vinda daquele que era a razão da esperança cristã o verbo encarnado, o menino nascido na noite de Natal.
Agora, na peregrinação quaresmal, nos preparamos para celebrar a vitória definitiva do Filho de Deus. Ele venceu a morte, decisão dos seus adversários como forma de encerrar sua proposta. Mas a vida venceu a morte, se plenificou e com ela também a proposta de vida digna e plena para todas as pessoas, sinal do Reino anunciado. Para nós cristãos a ressurreição de Jesus é o grande símbolo da nossa esperança.
A peregrinação quaresmal traz para nós este grande alento. Todavia, a peregrinação quaresmal não pode ser uma caminhada sem cruz. A cruz deve estar presente nos exercícios e práticas que fazemos em comunhão com a proposta da Igreja que sugere este tempo de graça e esperança. Mas ela não pode ficar apenas na cruz. Ela aponta para a montanha onde está o Transfigurado, o motivo de toda a esperança.
Fonte: Pe. Ari Antonio dos Reis - Coordenador de Pastoral
