Iniciamos recentemente uma caminhada de reflexão sobre cada capítulo da Encíclica Laudato Si. Este documento, que já referenciamos muitas vezes neste espaço, o qual completará uma década neste ano, nunca foi tão atual. Aliás, prova de que realmente é inspirado, como nossa Sagrada Escritura e todos os demais documentos que formam o Magistério de nossa doutrina e por consequência da nossa Igreja.
Neste sentido, no último escrito, trouxemos um brevíssimo resumo do Capítulo I e começamos a adentrar em uma reflexão a cerca do que está acontecendo com nossa Casa Comum. Em tempo, para que haja uma compreensão profunda e enraizada, é imprescindível que você, querido(a) leitor(a), saboreie cada página desta Encíclica. Nosso intuito é apenas despertar o seu interesse.
Porém, como já expresso no artigo acima citado, precisamos avançar um pouco mais neste conceito de dívida ecológica ou climática, antes de seguirmos nossa jornada para o Capítulo II. Portando, este será o nosso propósito nesta nossa interação. Dívida ecológica ou dívida climática: o que este conceito significa? A dívida ecológica ou dívida climática é um conceito que o Papa Francisco destaca na Laudato Si’ para denunciar a desigualdade entre os países ricos e pobres no que diz respeito às responsabilidades e consequências da crise ambiental. Ele argumenta que os países desenvolvidos, historicamente responsáveis pela maior parte da degradação ambiental, devem assumir uma responsabilidade maior na reparação dos danos climáticos e no apoio às nações menos desenvolvidas, que sofrem as consequências sem terem contribuído significativamente para o problema. Como essa dívida se origina? O Papa explica que essa dívida resulta de dois fatores principais: O Papa destaca que "a dívida ecológica está ligada a desequilíbrios comerciais com consequências no âmbito ecológico e ao uso desproporcional dos recursos naturais realizado historicamente por alguns países." (LS, 51) Neste sentido, o Brasil, por ter uma das matrizes verdes mais pulsantes do Planeta, poderia ser exemplo e se beneficiar muito nessa mudança de visão econômica. Contudo, ainda temos um longo caminho a percorrer, entrando em searas como interesses políticos e partidários, lobby corporativistas e desinteresse social. Vamos exemplificar para tornar mais tangível estas análises do Papa Francisco Todos estamos vivenciando e sendo afetados, de uma forma ou de outra, os efeitos das mudanças climáticas – secas prolongadas, chuvas devastadoras, produção agrícola deficitária, mortes fruto de desastres naturais. As geleiras estão derretendo, os oceanos esquentando, colônias de corais desaparecendo, entre outras consequências. A grande questão é que não importa se quem polui são os Estados Unidos, o Brasil, a Groelândia ou qualquer outro país. Vivemos todos juntos, sendo impactados pelos mesmos ventos, chuvas, nuvens e atmosfera. Para se ter uma ideia do problema atual, no dia 21.03.25, houve uma publicação do Mapbiomas dizendo que o Pantanal está secando. Isso, com certeza, até pouco tempo era impensável para a humanidade, assim como ter secas na Amazônia. De acordo com as pesquisas deste órgão, somente no ano passado este bioma perdeu 61% de superfície de água em 2024. Para ilustrar, “A dinâmica de ocupação e uso da terra no Brasil, junto com eventos climáticos extremos, causada pelo aquecimento global, está deixando o Brasil mais seco”, explica Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do MapBiomas Água. O Brasil possui 12% da água potável do planeta e cerca de 2% dessa quantia está no Pantanal, o bioma que mais perdeu superfície de água em relação à média histórica: 61%. Em 2024, o Pantanal, a maior planície alagável do planeta, ficou abaixo da média histórica durante todo o ano.” (CNN Brasil, 2025) Quais são as consequências da dívida climática A injustiça ambiental se reflete em várias dimensões: "Os países desenvolvidos deveriam ajudar a pagar a dívida ecológica, limitando significativamente o consumo de energia não renovável e ajudando os países mais pobres a apoiar políticas e programas de desenvolvimento sustentável." (LS, 52) Como reparar essa dívida? O Papa Francisco defende ações concretas para equilibrar essa injustiça: "Há uma necessidade premente de estabelecer um regime normativo que assegure a proteção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder derivadas do paradigma tecnoeconômico acabem por arrasar não só a política, mas também a liberdade e a justiça." (LS, 53) "Os países desenvolvidos deveriam ajudar a pagar a dívida ecológica, limitando significativamente o consumo de energia não renovável e ajudando os países mais pobres a apoiar políticas e programas de desenvolvimento sustentável." (LS, 52) "Frequentemente, as empresas que operam nesses países são multinacionais que fazem aqui o que não podem fazer nos países que lhes concedem o capital. Em geral, quando cessam suas atividades e se retiram, deixam grandes passivos humanos e ambientais, como o desemprego, povoados sem vida, o esgotamento de certas reservas naturais, o desmatamento, a desertificação, a contaminação dos rios e um punhado de obras sociais que já não se podem sustentar." (LS, 51) Será que este assunto da dívida climática foi superado? Nosso Santo Pontífice insiste no tema ou foi somente algo descrito na Laudato Si? O Papa Francisco tem abordado a questão da dívida ecológica em diversos documentos e discursos ao longo de seu pontificado, enfatizando a responsabilidade dos países desenvolvidos em relação aos impactos ambientais sofridos pelas nações em desenvolvimento. A seguir, destacam-se os principais momentos em que ele tratou desse tema: Esses documentos e pronunciamentos refletem a contínua preocupação do Papa Francisco com a justiça ecológica e a necessidade de ações concretas para sanar as desigualdades ambientais entre as nações. Portanto, a dívida climática é uma questão de justiça ecológica e social. O Papa Francisco defende que os países ricos, que mais exploraram e poluíram, têm a responsabilidade moral de ajudar os mais vulneráveis a enfrentar a crise climática. Ele pede uma mudança no modelo econômico e um compromisso global para proteger nossa casa comum de forma equitativa.
Fonte: Jocelito André e Valeska Salvador