Palavras que usamos e repetimos, podem estar na moda ou parecem óbvias. Elas podem enganar um pouco achando que sabemos seu significado profundo. Um exemplo é a palavra “Amor”, de valor universal. Todos procuram o amor, querem amar e ser amados. Mas existem experiências de amor dificeis e dolorosas e vemos que a palavra amor abrange múltiplos significados.
Vamos a palavra Sacramento. Sabemos a definição de Catecismo que nos ensinam e são importantes para a vida cristã. Mas sabemos o que são e o que deveriam ser? Se traduzem na vida cristã? Qual seu significado? Devemos escapar da superficialidade. Recordar alguns fatos históricos e teológicos importantes que ajudaram os Padres conciliares e suas intenções. Somos filhos do concílio, mas nem sempre estamos cientes do que há de novo e amplitude dos textos e a visão dos Padres conciliares é muito maior do que se acredita. Assim na primeira parte entender o contexto em que os Padres abordam o tema Sacramento.
Recordar a importância fundamental da pessoa de Jesus Cristo é dizer, que para os cristãos, Ele não é uma figura mítica, mas uma figura histórica. Mas não só isso. Não basta dizer que Ele existiu, mas que Jesus histórico é o Cristo, Filho de Deus. O que significa? Por que Jesus é tão importante?
Após a desobediência dos primeiros pais, Deus não se distanciou, mas procurou se comunicar com a humanidade. Escolheu um povo com o qual fez uma Aliança. Quando ela se quebrou Ele permaneceu fiel. Fez surgir profetas para lembrar dessa aliança. Nesse contexto Deus fez uma Nova Aliança e a vinda do Messias, o Ungido, é importante porque nesse ponto a caminhada dos judeus e cristãos se ramificam. Judeus ainda aguardam e cristãos acreditam no cumprimento da promessa. Os cristãos veem Cristo como o Messias prometido que com sua morte e ressurreição realizou a Nova Aliança destruindo o pecado e a morte e abrindo caminho para a vida plena.
Assim vemos com sinais que não basta aceitar Jesus somente como figura histórica, mas reconhecer nele o Cristo, o Filho de Deus. A história da Igreja é o cumprimento em Jesus das promessas. A pessoa de Jesus, o Ungido do Senhor, é figura central, aquele a quem está ligado toda a história. Para os cristãos Ele é o novo templo na Jerusalém celeste. Ele é o único sacrifício oferecido por todos. Ele é o fundamento.
Mas o que isso tem a ver com “Sacramentos”? Compreender Jesus nessa perspectiva é fundamental. Pela fé descobrimos que Jesus é o Cristo e que Nele temos acesso ao mistério de Deus. Olhando para Jesus e para o que Ele fez, formulamos melhor o mistério de Deus, que é o Cristo.
São Paulo enfatizou esse mistério de Deus, mysterium, que foi traduzido para o latim sacramentum. Nesse sentido Sacramento é o mistério do Deus invisível. Mistério não é algo menos real ou inexplicável, mas como fundamento da fé cristã. No conceito bíblico abrange todo mistério de Jesus Cristo, a história da salvação. Portanto, se se quer abordar o conceito “Sacramento”, deve se partir Dele, da pessoa de Jesus, porque Ele é cumprimento das Escrituras.
Voltando ao Novo Testamento vemos que Jesus Cristo não é apenas uma aventura intelectual do melhor ou pior das Escrituras, mas uma “Ação” de acompanhar esse Cristo por determinado percurso. Não apenas o cumprimento das Escrituras, mas pelos gestos concretos no qual Ele “tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu e deu a eles”, portanto, conhecer Jesus Cristo, que não é apenas uma palavra, mas uma Palavra-Ação que abre os olhos para novos horizontes e permite a jornada além das fronteiras usuais.
Fonte: Pe. Josélio de Azevedo