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“a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística, estão ligadas tão intimamente que constituem um só ato de culto” (SC, n. 56).
Como já apontado no texto introdutório da última semana, há uma relação intrínseca entre a Palavra e a Liturgia, que advém da Páscoa enquanto experiência de um povo. Esse caráter comum, vivido como experiência coletiva, sempre foi marcado por uma dimensão eclesial ancorada na fé bíblica que sempre rejeitou qualquer visão puramente individualista e segmentária. Uma fé que apontava que a pessoa humana só pode ser compreendida na sua verdade através das relações mais amplas tecidas com os outros, com o mundo e com o próprio Deus.
Pode-se dizer que a vivência e a celebração da Páscoa se davam em comunidade, manifestando uma unidade querida por Deus, revelada no encontro, na partilha, no comum. Um encontro comunitário feito de história, memória, partilha e celebração, afinal, “é nessa comunidade e por meio dela que Deus gosta de se manifestar” (p.17). É a experiência da Palavra de Deus celebrada em comunidade que santificava a própria comunidade. Esse ato de celebrar a Palavra tornava a comunidade viva, alimentando a espiritualidade de um Deus próximo e caminhante com seu povo.
De um lado, a Palavra feita memória iluminava, purificava e abria caminhos para imaginar um outro mundo, por outro, a vivência comum da fé feito ekklesia e testemunho, abriam novos horizontes interpretativos que solidificava a unidade e vida comum. Um círculo hermenêutico animado pelo Espírito, aberto à Palavra, que tornava viva a comunidade, capaz de interpretar e ressignificar os desafios que dela emergiam. Assim, a Palavra vivida e celebrada iluminava o passado, orientava o presente e abria o futuro. Existe, conforme salienta a Bíblia, nesse sentido, um vínculo profundo que une a Sagrada Escritura e a Liturgia, presente deste a origem escriturística da Páscoa e que se tornou base da reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II. Assim, a Palavra encontra novamente um lugar privilegiado sendo de “suma” importância na Liturgia (SC, n. 24), fazendo desse encontro a fonte e ápice da vida cristã. Um encontro que une duas mesas, da Palavra e da Eucaristia.
O Concílio Vaticano II recupera esse sentido, ofertando um novo jeito de celebrar e um novo lugar donde se celebra. Recupera a mesa da Palavra e da Eucaristia como centrais, como fontes, desejando que os féis possam escutar e celebrar com muita alegria e clareza. Por isso indica que a vida espiritual dos fiéis seja alimentada pelas mesas da Palavra de Deus e a da Eucaristia (PO, n. 18; PC, n. 6). Palavra e Liturgia se perpassam, dinamizam e iluminam o viver e a vida de fé. Como salienta a Dei Verbum: “As divinas Escrituras sempre foram veneradas como o próprio Corpo do Senhor pela Igreja, que máxime na sagrada Liturgia não cessa de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, tanto da mesa da Palavra de Deus quanto da mesa do Corpo de Cristo” (DV, n. 21).
Fonte: Regiano Bregalda