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11.Mar - Artigo 2: A Via-Sacra
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Artigo 2: A Via-Sacra

 


Dentre os vários exercícios de piedade com os quais os fiéis veneram a Paixão do Senhor, especialmente durante o período da Quaresma, destaca-se significativamente a Via-Sacra, por ser uma das formas mais arraigadas e praticadas pelo povo de Deus.


Ela nasceu para recordar o doloroso caminho percorrido por Jesus na sua vida terrena, desde o momento em que Ele e os seus discípulos, "depois de cantar o hino, saíram para o Monte das Oliveiras" (Mc 14,26), até o momento em que o Senhor foi conduzido ao "lugar chamado Gólgota" (Mc 15,22), foi crucificado e sepultado em um novo sepulcro escavado na rocha (Mc 15,46). Uma caminhada penosa, cansativa e extremamente dolorosa, mas também marcada por encontros e olhares entre Cristo e seus amigos, inimigos ou pessoas que, como que por acaso, estavam naquele lugar e naquele momento, como o Cireneu. Nessa "peregrinação", cujas fontes são os Evangelhos a tradição popular das peregrinações à Terra Santa, Cristo sofre e oferece a sua vida para redimir e salvar a humanidade.


No final do século IV, a peregrina Egéria -  uma monja da Galícia que nos deixou, com o seu diário de viagem, um precioso testemunho dos costumes litúrgicos da Terra Santa -  dá-nos notícias da construção de três edifícios no alto do Gólgota: a Anástase, a pequena Igreja ad crucem e o Martyrium. Ela atesta que em Jerusalém se praticava uma procissão nos lugares da Paixão de Cristo - forma embrionária do que viria a ser a Via-Sacra. A representação dos vários episódios dolorosos ocorridos ao longo do percurso ajudava a envolver os espectadores com forte carga emocional. Essa procissão foi reproduzida pelos peregrinos que iam a Jerusalém visitar os lugares da vida de Cristo, assim que voltavam a sua pátria.


Da fusão de várias devoções surgidas na Idade Média, desenvolveu-se a Via-Crucis na sua forma atual: a devoção das "quedas de Cristo" sob a cruz; a dos "caminhos dolorosos de Cristo", que consistia na procissão de uma igreja a outra em memória dos caminhos de dor percorridos por Cristo durante a sua Paixão; a das "estações de Cristo", ou seja, dos momentos em que Jesus para no caminho rumo ao Calvário, forçado pelos carrascos, ou exausto pelo cansaço e feridas ou no encontro com várias pessoas ao longo do seu caminho de dor. Esta forma de Via-Sacra, preparada graças à devoção de São Bernardo de Claraval († 1153), de São Francisco de Assis († 1226) e de São Bonaventura da Bagnoregio († 1274), se difundiu graças ao incansável empenho do frade menor São Leonardo de Porto Maurício († 1751), foi aprovada pela Sé Apostólica e enriquecida de indulgências. Como atualmente configurada em quatorze estações, é atestada na Espanha na primeira metade do século XVII, especialmente em meios franciscanos. Da Península Ibérica passou primeiro para a Sardenha, então sob o domínio da coroa espanhola, e depois para a península italiana.


A prática do piedoso exercício da Via-Sacra sustenta e aumenta a espiritualidade cristã, porque recorda muitas de suas características: a concepção da vida como caminho ou peregrinação; como passagem, pelo Mistério da Cruz, do exílio terreno à Pátria Celeste; o desejo de conformar-se profundamente com a Paixão de Cristo; as exigências da sequela Christi [seguimento de Cristo], pela qual o discípulo deve caminhar atrás do Mestre, carregando diariamente a própria cruz (cf. Lc 9,23).


Se, do ponto de vista artístico, a iconografia da crucificação dos séculos XII-XIII passa da representação do Christus trium- phans [Cristo triunfante] ao Christus patiens [Cristo sofredor], do ponto de vista teológico, emerge a convicção de que "na cruz de Cristo não só se realizou a redenção mediante o sofrimento, mas também o próprio sofrimento humano foi redimido" (SDo, n. 19). Na perspectiva cristã, o sofrimento assume uma conotação salvífica, se for acolhido e vivido como participação na Paixão e Morte de Cristo, que redimiu a humanidade oferecendo-se como vítima pura e imaculada no altar da Cruz. Olhando, portanto, para o acontecimento histórico de Jesus de Nazaré, representado no momento culminante da sua dor, o cristão sabe que o sofrimento e a morte são sinais proféticos, que se enchem de sentido precisamente graças ao Mistério Pascal de Cristo. Quando o sofrimento e a morte se fecham em si mesmos, levam ao desespero, mas se se orientam para um horizonte de vida, abrem à esperança. E o horizonte é a vida eterna, aquela vida inaugurada pelo Crucificado Ressuscitado, que ressuscita com o seu corpo glorioso, mas marcado ao mesmo tempo por aquelas "chagas" que, pela força do Espírito, se tornam "fendas" de luz e esperança.


 


 


 


 


Fonte: BORBA, MAURIZIO. Os Tempos Fortes Do Ano Litúrgico, (Cadernos Do Concílio – 13). Brasília: Edições CNBB, p. 24 à 27, 2023.

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