O Mistério Eucarístico é o tema abordado no livro 9 da coleção Jubileu 2025, peregrinos da esperança. Quem escreve o texto é uma religiosa italiana de vida contemplativa, a qual expressa de forma jovial o tema da liturgia naquilo que é a sua essência: celebrar o Mistério Eucarístico.
Uma das propostas do Concílio Vaticano II foi a de tornar acessível aos fiéis a celebração do mistério da fé, seja por uma missa que mantenha a solene simplicidade até a participação consciente, ativa e plena da comunidade, ou seja, que os participantes da eucaristia tenham condições de entender, experienciar, viver e praticar aquilo que celebram.
Assim sendo, uma das condições necessárias para a vivência litúrgica é permitir que a ritualidade das celebrações seja mantida. Mas ritos e ritualidade não é só “coisa de missa”. Toda a nossa vida é marcada por um ritmo de repetições que fazemos habitualmente, que são parte do cotidiano. Na liturgia, a ritualidade dá ritmo aquilo que celebramos, auxilia na familiaridade com aquilo que é sagrado e atualiza a força salvífica de Deus.
Por este motivo, o modo como nós celebramos a missa não é um simples repetir de gestos ou fazer coisas sem sentido. Os ritos da sagrada liturgia permitem viver o hoje da salvação. Com isso, também dizemos que estes mesmos ritos não são de domínio de alguém, isto é, que alguém possa mudar os passos da celebração, escolher outras leituras por seu interesse ou começar a missa “de trás para frente” só porque alguém deseja fazer algo diferente. A liturgia é da Igreja, a qual garante aos fiéis a dignidade dos santos mistérios.
Outro componente importante da liturgia é a linguagem, haja visto que a liturgia é essencialmente comunicação do mistério celebrado. Entretanto, nem sempre a linguagem é captada por todos, o que deixa a comunicação truncada. Conforme a escritora do texto em questão, uma jovem deixou o seguinte depoimento sobre sua experiência na liturgia: “é como assistir à projeção de um filme em uma língua estrangeira incompreensível e sem legendas, e ainda mais estando sentados não em poltronas, mas em incômodos bancos de madeira etc, e na sala há apenas adultos desinteressados” (p. 13). Esta é uma opinião que certamente outros jovens também tem sobre a linguagem das nossas celebrações.
Obviamente que em tempos digitais, a comunicação ainda ganha elementos da imagem e das telas dos aparelhos eletrônicos. Há que insistir em formar nosso povo para uma comunicação com o mistério. O problema não está somente na linguagem litúrgica que é difícil, adulta de mais, não expressa sentimentos. Esse é um problema diagnosticado no mundo da comunicação. As pessoas estabelecem cada vez menos vínculos comunicativos, interagem com menos facilidade, conversam muito pouco e se entendem menos ainda. Se a comunicação humana está difícil, comunicar o mistério divino encontra limites ainda maiores.
Há que se dedicar na formação dos nossos fiéis para a linguagem litúrgica, mais do que as palavras ditas pelo padre na oração da missa, mas educar os católicos para aquilo que o Concílio pediu: “participação ativa, plena e consciente”. Que entendam os ritos, o sentido das vestes, das procissões, daquilo que cantam, como cantam, das realidades visíveis e invisíveis presentes no ato de culto.
Este caminho da educação para tornar a linguagem litúrgica compreensível requer “conferir novo significado às palavras, ou melhor, de recordar o significado delas, de restaura-lo, re-cor-dar, dar-de-novo-ao-coração o sentido daquilo que se vive, conscientes de que os significados evoluem, crescem junto daqueles que os compreendem e transmitem” (p. 17).
Fonte: Pe Mateus Danieli
