O desenvolvimento saudável e integral de cada pessoa perpassa pela construção de vínculos amistosos. Na infância, por exemplo, com frequência percebe-se quão facilmente as crianças despertam para laços de proximidade, afeição e conhecimento mútuo que lhes oportunizam experiências de lealdade, confiança, altruísmo, etc. No processo de crescimento e desenvolvimento infantil, juvenil ou adulto, cultivar amizades desvela um importante passo na plena saúde do ser humano.
Relações humanas caracterizam-se, a priori, pelo encontrar-se. Enquanto ser societário, cada indivíduo, constantemente, está imbricado pelo convívio, seja familiar, laboral, estudantil, comunitário, social, cultural, esportivo, etc. Círculos de amizade conclamam às mais variadas experiências de alteridade, possibilitando às pessoas compartilhar gestos, sentimentos, memórias, incalculáveis monetariamente. Emerge, neste ínterim, a expressão musical: “Amigos são horizontes de um dia mais bonito. Amigos são como fontes que não secam, são benditos” (Tchê Sarandeio).
A caminhada espiritual de muitos povos, registrada nas sagradas escrituras, pondera ser sinal transcendental a constituição de amizades verdadeiras. O Eclesiástico, ou Sirácida, pertencente ao Primeiro Testamento compartilha um hino à amizade ao dizer: “Amigo fiel é proteção poderosa, e quem encontra, encontra um tesouro. Amigo fiel não tem preço, não há medida para indicar o seu valor. Amigo fiel é remédio para vida, e os que temem ao Senhor o encontrarão” (Eclo 6,14-16).
Lucas evangelista, a saber, ao introduzir o Evangelho, dirige-se a Teófilo. A Teologia compreende que “Theóphilos”, pela tradução bíblica, significa “amigo de Deus!” João evangelista narra a relação dialógica de Jesus com seus seguidores(as): “Ninguém tem amor maior do que alguém que dá a vida pelos amigos. Vocês são meus amigos [...]; eu chamei vocês de amigos, porque fiz vocês conhecerem tudo o que ouvi do meu Pai” (Jo 15,13-15). “Amizade, é dom divino da paz” proclama Rui Biriva na “Canção do Amigo”.
A Doutrina Social da Igreja ensina que a amizade está diretamente ligada à vida comunitária e compõe o campo “do desinteresse, do desprendimento dos bens materiais, da sua doação, da disponibilidade interior às exigências do outro” (CDSI, n. 390). Ademais, recorda ser a amizade sinônimo do “princípio, que hoje designamos de solidariedade” (CDSI, n. 103); possibilita a pessoa “projetar-se na lógica da gratuidade e do dom, a qual corresponde mais plenamente à sua essência e à sua vocação comunitária” (CDSI, n. 391). Vinícius de Moraes, poeta, diz que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida” (Samba da Bênção). Portanto, encontrar amigos(as) permite-nos “optar pelo cultivo da amabilidade” (FrT, n. 222) e preservar, à vida, um tesouro sagrado.