Nesta semana, de 18 a 25 de junho, tem-se pautado o fenômeno das migrações por ocasião 38ª Semana do Migrante, organizada pelo Serviço Pastoral dos Migrantes, ligado à Igreja do Brasil e com atuação significativa junto às populações migrantes. O assunto é retomado no mês de setembro, então com alcance mundial com a proposição do 109ºDia Mundial do Migrante e do Refugiado.
O tema proposto para esse ano dialoga com a Campanha da Fraternidade de 2023 tematizando a realidade da fome e sua relação com as migrações: “Migração e Soberania Alimentar”. O lema é uma expressão contundente de São João Batista Scalabrini, que expressa um dos motivos dos deslocamentos humanos: “Pátria é a Terra que lhe dá o pão”.
O tema das migrações é amplo se faz necessário compreender também a sua complexidade. Certamente este breve artigo não dará conta disso. Optou-se por trabalhar três aspectos: migração como fenômeno humano, a relação da região com as migrações, exigências éticas e humanas diante do quadro migratório.
O ser humano é marcado pelos deslocamentos. As diversas necessidades humanas provocam os deslocamentos para sanar as diferentes necessidades que não são apenas materiais, apesar da sua primazia. Ao longo de toda a trajetória da humanidade vê-se processos migratórios e estes estão ligados aos fenômenos da época que provocam o deslocamento. Hoje pauta-se três fatores geradores de deslocamentos, a saber, situações de guerra; fenômenos climáticos que ameaçam a sobrevivência humana e provocam a saída; questões econômicas, ou seja, quando as condições de vida ficam fragilizadas migra-se buscando uma vida melhor. O Brasil tem recebido imigrantes de diferentes lugares do mundo e os fatores acima elencados têm um peso significativo como causa migratória.
O fenômeno humano da migração foi influenciador da ocupação da região de Passo Fundo. Os imigrantes que aqui chegaram, sobretudo vindo da Europa, vieram buscando melhores condições de vida e também para contribuir na ocupação da região sul. As difíceis condições de vida na Europa e as necessidades brasileiras deram o mote para que o processo se fortalecesse. O fato acontecido nos séculos XIX e XX repete-se agora. Todavia não são europeus que chegam aqui. Temos recebido asiáticos (indianos e bengalis), africanos (sobretudo senegaleses), latino-americanos (venezuelanos, cubanos, argentinos, etc).
A sua maioria vem para o Brasil buscando melhores condições de vida e tem ocupado um papel importante em alguns segmentos do setor produtivo o que desconstrói a ideia de que se presta um favor ao acolhê-los. Esta mão de obra é necessária para que o setor produtivo funcione. Eles são tão necessários nos tempos atuais como os migrantes europeus foram nos séculos passados. Aqui constrói-se uma comunhão com a expressão de São João Batista Scalabrini: “pátria é a terra que lhe dá o pão”. Na busca do pão, da vida digna, da sobrevivência os migrantes fazem de um lugar que não era o seu lugar, uma terra que não era a sua terra o seu chão sagrado porque ali têm condições de encontrar o pão de cada dia.
É possível ampliar a expressão de Scalabrini. Ao buscar pão os migrantes legam para o lugar que os acolhe muitas outras riquezas. O Papa Francisco, tomando as palavras do profeta Isaías, afirma que os migrantes e refugiados não são invasores nem destruidores, mas trabalhadores dispostos a reconstruir os muros da nova Jerusalém. Apesar da fragilidade que marca a necessidade do deslocamento os migrantes favorecem os intercâmbios culturais, as experiências religiosas e existenciais, que são paralelos aos intercâmbios econômicos. O processo migratório é então uma via de mão dupla que inibe qualquer possibilidade de xenofobia orgulhosa. Aqui chegam muitas pessoas preparadas as quais não tiveram investimento do Estado. Todavia a boa formação técnica e humana é elemento de enriquecimento para a nação.
A migração é uma realidade que provoca a abertura da mentalidade e do coração. Entretanto faz-se necessário à disposição pessoal para tal abertura o que compreende a dimensão subjetiva. Diferentes passagens do Antigo Testamento lembram a acolhida ao estrangeiro como critério de fidelidade ao projeto de Deus No Evangelho de Mateus Jesus apresenta como critério de salvação acolher a sua pessoa no estrangeiro (Mt 25,35). Também é importante uma mínima base legal que garanta o direito de ir e vir e que também faça a mediação entre a pátria que acolhe e os que buscam uma nova terra. O fenômeno migratório exige vontade política de parte dos governantes em vista do cuidado e preservação da vida dos migrantes.
O fenômeno da migração, apesar das grandes dificuldades que engendra, permite a oportunidade, segundo o Papa Francisco, de termos os migrantes “como nossos companheiros de viagem especiais, que havemos de amar e cuidar como irmãos e irmãs. Só caminhando juntos, poderemos ir longe e alcançar a meta comum da nossa viagem”.
Somos peregrinos nesta terra. Nosso destino é pátria celeste. Tentemos garantir uma boa peregrinação a todos os que Deus coloca em nosso caminho, entre eles os migrantes.