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14.Set - REFLEXÕES DA TRAGÉDIA
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REFLEXÕES DA TRAGÉDIA

 


Uma enxurrada de emoções tomou conta dos corações e mentes sensíveis aos sinais gritantes do nosso tempo, acontecidos em nossa região nesses dias de setembro. Sempre se acompanhou, de longe, tragédias geradoras de destruição e de morte que aconteciam em outros lugares do nosso País. Mas agora foi em nosso espaço de vida. O imprevisto e o impensável aconteceram, transformando em território destruído o que antes era um lugar de alegria.  Quanta dor! Quanto sofrimento! Como não se condoer com aqueles que perderam o que levaram uma vida inteira para conquistar? Como não se solidarizar com os que choram pela perda irreparável dos que sucumbiram com a tragédia?


Enquanto ainda se contabilizam os imensos prejuízos, enquanto ainda se chora pelos que foram tragados pelas águas e enquanto continuam as buscas pelas dezenas de desaparecidos, a sociedade segue mobilizada em torno de ações solidárias que buscam atenuar o imenso sofrimento gerado pela catástrofe.


Diante de tamanha tragédia resta-nos a possibilidade (e a necessidade) de se refletir sobre os acontecimentos. Uma primeira reflexão é aquela que nos convida a buscar compreender o que provocou o desastre socioambiental. Nisso as ciências ligadas à natureza muito poderão contribuir, como, aliás, já vêm fazendo. Sabe-se que, embora seja um fenômeno natural, há também o componente da ação humana a colaborar para o aumento das mudanças climáticas que estão acontecendo aqui e  em todo o planeta. Há muito já sabemos que a terra precisa ser vista como ser vivo, que pulsa, que tem suas leis e segue uma lógica que não se pode desconsiderar, pelo contrário, é preciso respeitar. Nela, somos hóspedes transitórios, ela nos precede na existência e haverá de continuar,  mesmo sem nós, os humanos, os quase últimos a chegar.


Aqui vale remeter, dentre tantos outros,  a um escrito muito atual e importante do Papa Francisco,  que em sua carta “Louvado Sejas – sobre o cuidado da casa comum”  deu realce ao que a ciência já vem há algum tempo dizendo. Em nossa terra, “está tudo interligado”. Na referida carta, diz o Papa que “para nada serviria descrever os sintomas, se não reconhecêssemos a raiz humana da crise ecológica.  Há um modo desordenado de conceber a vida e a ação do ser humano, que contradiz a realidade até o ponto de a arruinar. Não podemos nos deter para pensar nisso? ”. É, sim, fundamental que o façamos enquanto ainda temos tempo.


Relacionada ao caos gerado pelo turbilhão das águas, há outra importante reflexão que remete a perceber a imensa rede de solidariedade que se construiu a partir da tragédia, mostrando a criativa e dinâmica capacidade humana de empatia e de generosidade, que são valores fundamentais que nos constituem em nossa humanidade. De forma presencial, ou pelas mídias e diferentes formas, acompanhamos a mobilização de centenas e centenas de pessoas que, condoídas e solidárias, se fizeram presentes no cenário da desolação, levando o consolo e o apoio necessários para os desabrigados. Não apenas o necessário material, a começar da comida e da água, mas sobremaneira, o conforto humano espiritual, como a escuta dos lamentos e  o abraço fraterno.  Quanto aprendizado se pode retirar desta tragédia, que nos ajuda a pensar nas relações construídas e na própria vida societária,  que haverá de seguir. Como tudo está interligado, o que for feito neste âmbito da acolhida, do conforto, que olha para o sofrimento das pessoas, mas também das relações sociais comunitárias haverá de se refletir, se o quisermos, na melhora da convivência social da própria sociedade.


Há ainda um terceiro elemento de reflexão que pode nos ajudar a aprofundar e fortalecer em nós sentimentos de pertença e de sentido à vida que recebemos como Graça. Até aquele  momento em que se manifestou o turbilhão das águas, ninguém tinha a mínima consciência de que também estava colocada a possibilidade do fim da vida de muitos. Diante do inevitável, os que puderam buscaram refúgio em lugares mais seguros, seja um lugar no andar superior ou mesmo nos telhados, ou abandonaram às pressas as suas casas. Contudo, ninguém soube prever o pior, mesmo porque, segundo ouvi especialista afirmar, não havia na memória coletiva fato anterior que remetesse à iminência do perigo de morte. Como nas outras tantas vezes, previa-se que o rio subiria, mas até um determinado limite. Mas não foi assim desta vez, e muitas vidas foram ceifadas.  E o vale se encheu de destruição, de lamentos e de luto.


Tanto a ciência, como as religiões, que buscam perscrutar e compreender o mistério da vida,  não têm palavras de certeza para enfrentar a tragédia, o sofrimento e a morte. Enquanto seres criados, sabemos da nossa fragilidade, sabemos do nosso ciclo vital, da nossa efemeridade. Também sabemos, desde os antigos filósofos, que o cuidado é o anjo protetor da vida, seja a humana, seja a de todos os seres que habitam esta Casa Comum. E, os cristãos, sabemos o que nos alertou tantas vezes o Mestre Jesus e que ficou registrado na memória das comunidades originárias:  “vigiai, pois não sabeis nem o dia, nem a hora” (Mt 25, 13). Não se trata certamente de viver sob a égide do medo, mas sim com sabedoria,  com responsabilidade, deixando-nos conduzir por uma ética de cuidado que tem relação a tudo o que pensamos, dizemos e fazemos da vida, inclusive a vida presente na Casa Comum,  o dom sagrado que nasceu com o sopro Divino.


Aos nossos irmãos que tudo perderam, especialmente, os que perderam seus entes queridos, chegue a benção divina da nossa solidariedade. E à legião de homens e mulheres solidárias, deixo esta mensagem já conhecida certamente, mas que remete ao que é essencial. Cuidemos do que é essencial para vida seguir e prosperar. E, como diz o Papa: “não deixemos que nos roubem a Esperança”.


 









SABER VIVER 


Não sei… Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.


Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.


E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.


É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura… Enquanto durar


 (atribuída a Cora Coralina, poetisa de Goiás)



 


 


 


Prof.  Diác. Silvio Antônio Bedin


(email. Silvio.bedin@hotmail.com)


 


Diá. Silvio Antônio Bedin

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DIÁCONO SILVIO ANTONIO BEDIN

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