Neste ano vocacional a Igreja tem refletido sobre a importância da cultura vocacional, isto é, tornar as comunidades lugares de encontro com o Senhor Ressuscitado, para que todos os batizados tenham “corações ardentes, pés a caminho”. Mas alguns entende que é um tempo para apontar as realidades. Estes se preocupam com o número de padres que tem diminuído, que os presbíteros estão envelhecidos, os seminários estão com poucos candidatos ao ministério ordenado. Isso é uma verdade. Entretanto, nos perguntamos: onde estão os padres? E proponho três indicativos: na mesa de estudos, no consolo e nos lugares de fronteira.
O primeiro lugar, a mesa de estudos, refere-se à preparação para as atividades pastorais. O Concílio Vaticano II, no decreto Presbyterorum Ordinis insiste que sejam oferecidas condições para que os padres estudem e se aperfeiçoem cada vez mais nas coisas de Deus e dos homens. Isso se chama formação permanente. Todavia, existe a necessidade da formação para o Povo, a catequese, assessoria às pastorais e movimentos. Alguns padres são professores e precisam preparar as aulas, são convidados para dar palestra, cursos bíblicos, ensaiar cantos... tudo isso exige preparação. Outra atividade que exige preparação é a homilia. E como nos exorta o Papa Francisco na Evangelii Gaudium: “A preparação da pregação é uma tarefa tão importante que convém dedicar-lhe um tempo longo de estudo, oração, reflexão e criatividade pastoral” (EG 145). Para que tudo isso seja realizado, o presbítero precisa estar na sua mesa de estudos.
O segundo lugar no qual os presbíteros estão é no consolo. Os padres dedicam tampo para atender as pessoas, enxugando suas lagrimas, ouvindo seus desabafos, orientando a espiritualidade, ouvindo confissão. Durante a pandemia muito se falava das pessoas dedicadas aos infectados, quase não se falou dos presbíteros que estavam nos cemitérios rezando pelos falecidos e familiares enlutados. Mas ali estavam os padres da Igreja. E nos tempos de crise como estamos vivendo, as necessidades de atenção às pobrezas espirituais exigem dedicação a exemplo de São João Maria Vianey, o Santo Cura D’Ars. O papa Bento XVI, na carta de proclamação ao Ano sacerdotal de 2009 recordou: “O Cura d’Ars tinha maneiras diversas de comportar-se segundo os vários penitentes. Quem vinha ao seu confessionário atraído por uma íntima e humilde necessidade do perdão de Deus, encontrava nele o encorajamento para mergulhar na “torrente da misericórdia divina” que, no seu ímpeto, tudo arrasta e depura. E se aparecia alguém angustiado com o pensamento da sua debilidade e inconstância, temeroso por futuras quedas, o Cura d’Ars revelava-lhe o segredo de Deus”.
E o terceiro lugar em que encontramos os presbíteros são nas situações de fronteiras. Muitos nem imaginam que o seu padre está dedicado a atender os irmãos do cárcere, aos doentes dos hospitais, visitando famílias em lugares de perigo, atendendo centros de recuperação para dependentes químicos, arrecadando mantimentos para pessoas em situação de miséria, organizando a caridade para melhor atendimento aos pobres, acordando de madrugada para oferecer cobertor aos moradores de rua. São estes lugares de fronteira que encontramos inúmeros presbíteros mergulhados no amor caritativo.
Se o ano vocacional nos inquieta sobre os números, a realidade pastoral nos faz esperançar. Nossos presbíteros estão dedicados a santificar a vida do Povo que lhe foi confiado. Tantas vezes incompreendidos por parte de alguns, mas tão importantes para muitos que estão “abandonados e abatidos como ovelhas sem pastor” (Mt 9,36) e que só encontram um abrigo no coração dos seus amigos sacerdotes.
Fonte: Pe Mateus Danieli
