Páscoa é todo dia? O Brasil, segundo prevê a Constituição, é um Estado laico. Garante liberdade religiosa aos cidadãos e às cidadãs, pois, Igreja e Estado estão separados. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dispõe dados públicos constatando que 87% da população brasileira denomina-se cristã, sendo 64,6% católica e 22,2% protestante, aproximadamente. Há, ademais, diversas outras comunidades religiosas no país.
“A Páscoa não é só hoje, a Páscoa é todo dia. Se eu levar o Cristo em minha vida, tudo será um eterno aleluia” (Míria T. Kolling), diz a canção. Cristãs e cristãos, pelo mundo, neste contexto contemporâneo, celebraram a memória do mistério pascal: vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ao ressignificar a celebração pascal judaica que comemora a libertação da escravidão egípcia e a conquista da Terra Prometida, onde há leite e mel, isto é, vida e liberdade, a Igreja Cristã faz memória à tradição bíblica e a experiência de discipulado e apostolado junto ao jovem moço de Nazaré.
A semana santa, há dois milênios, conclui-se com a vigília da ressurreição e a proclamação da Páscoa. A sagrada escritura recorda que Maria Madalena, Maria de Tiago e Salomé, passado o sábado, com perfumes, vão visitar o túmulo e o descobrem vazio. Havia, porém, um jovem que lhes anunciou: “Não se assustem. Vocês procuram Jesus de Nazaré, o Crucificado. Ele ressuscitou! Não está aqui. Vejam o lugar onde o puseram” (Mc 16,1-7). A alegria contagiante mesclada de espanto faz companhia às visitantes. Será preciso compartilhar a Boa Notícia!
A pandemia do Covid-19, ceifando milhares de vidas e fragilizando inúmeras realidades, forçou a comunidade humana, em geral, bem como cristãos e cristãs, a reorganizar-se para a Páscoa. Redes sociais, meios eletrônicos e modos alternativos de comunicação estiveram presentes nas ações litúrgicas de famílias, grupos e comunidades, como recurso viável e seguro, evitando aglomerações. No Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em plena comunhão com o Papa Francisco, propôs celebrações litúrgicas com número restrito de participações, zelando pela vida e a saúde de todas as pessoas.
A estranheza proposta, através de liminar, pelo ministro Kassio Nunes Marques do Supremo Tribunal Federal (STF), favorável à liberação de cultos e missas presenciais para as comunidades religiosas brasileiras, em contrapartida às orientações dos órgãos de saúde e segurança, talvez, similar ao espanto das mulheres discípulas ao deparar-se com o túmulo vazio, registrou-se aos trilhos da história no sábado santo da vigília pascal, em 2021.
Páscoa é festa da Vida que supera a morte e tudo que a envolve; contudo, respeita e chora a via crucis de Jesus Cristo e, atualmente, de seus semelhantes, mulheres e homens. Portanto, agora, “Christus Vivit” e nos quer vivos(as)! Há jovens, hoje, propondo alternativas vívidas – “Vida, Pão, Vacina e Educação!” – ante as incontáveis situações de morte. Tais atitudes oferecem-nos testemunho de Jesus Cristo ressuscitado.
A Civilização do Amor constrói-se de lágrimas e sorrisos. Trens de história, pontes de memórias e ações reais, presentes na caminhada da vida. “Lutar e crer, vencer a dor, louvar o Criador. Justiça e paz hão de reinar e viva o amor”, memora-nos a canção. Coragem, resistência e esperança neste tempo presente! Páscoa é sinônimo de passagem de uma realidade de morte para a liberdade vivaz, digna e plena. Caminhamos juntos(as), passo-a-passo, a começar pelo primeiro, nesta travessia!