A descoberta do fogo, segundo pesquisas arqueológicas, durante o período neolítico (aproximadamente 7 mil anos a.C.), certamente, proporcionou à história uma das maiores inovações, capaz de propulsionar significativa transformação ao viver da humanidade. À construção civilizatória é mister compreender processos gestores de alteridade humana, ambiental e transcendente. A capacidade de produzir, dominar e compreender o fogo como fonte energética revolucionou a evolução humana. A importante fonte de calor ganhou, às civilizações, múltiplos significados.
A sociabilidade humana e a relação com o meio ambiente fora, com o discorrer do pensar e o passar cronológico, reconfigurada graças a manipulação do poder do fogo. Nos períodos remotos, a saber, propiciou proteção, guarida nas cavernas, cozimento de alimentos e a confecção de utensílios. Passado o tempo a fonte energética de calor, associada as capacidades humanas e tecnológicas ganha finalidades variadas, inclusive, com dimensões político econômicas, esportivo culturais e sócio religiosas.
A Pira, portadora da chama olímpica, é importante símbolo aos jogos mundiais, inspirados nos antigos jogos, greco-romanos. A simbólica Tocha percorreu o Brasil que, em 2016, no Rio de Janeiro, sediou as olimpíadas. Tóquio, hoje, acolhe a edição olímpica 2020/2021. No Rio Grande do Sul a simbologia cultural do fogo, através da chama crioula, tornou-se sinal, ainda, à memória histórico revolucionária farroupilha.
Atletas dos cinco continentes do Planeta Terra reúnem-se para disputar provas esportivas em modalidades aquáticas, terrestres e aéreas, sob o impulso simbólico do fogo que na Grécia acende-se a percorrer caminhos mundiais. A UNESCO compreende que a realização dos jogos olímpicos expressa a celebração da amizade, excelência e respeito entre as nações, sendo o esporte um importante “indutor de transformação social, desenvolvimento humano e empoderamento dos jovens”.
O Japão, recentemente abalado por catástrofes naturais de grandes proporções, articula protocolos e cuidados, dada a pandemia, ao recepcionar as mais de 200 delegações dos países participantes, ao som de “Imagine” (John Lennon) à cerimônia inicial. Desde 1896, quando fora realizada a primeira olimpíada moderna, chega-se a XXXII Olimpíada, em 2021. Pela quarta vez o Japão torna-se sede olímpica e registra importantes marcas à história esportiva, econômica, social e política mundial.
Adolescentes, jovens e adultos reúnem-se na Terra do Sol Nascente (Nippon) junto ao inspirador brilho da flamejante chama da Pira Olímpica. Na primeira edição dos jogos olímpicos no país insular da Ásia Oriental, realizada há 57 anos, Yoshinori Sakai, nascido durante os ataques atômicos em Hiroshima (6 de agosto 1945), por razão da Segunda Guerra Mundial, foi o atleta responsável por acender a Pira. Na atual edição, caracterizada pela ausência histórica de público para os jogos, a jovem Naomi Osaka, 23 anos, mulher negra, recebeu a Tocha pelas mãos de crianças refugiadas para acender a Pira Olímpica, alimentada com Hidrogênio, guardando o cuidado com o meio ambiente.
E o Brasil? O antigo anfitrião dos jogos parte do continente das Américas, no ocidente, para Tóquio com 301 atletas, aptos para 35 modalidades esportivas. Rayssa Leal, 13 anos, mais jovem atleta olímpica, disputa na nova modalidade, Skate. Sabe-se, ademais, que dentre os/as atletas, 51% são homens e 49% são mulheres. Para além de medalhas e recordes, a juventude olímpica porta consigo o desejo de arquitetar sonhos possíveis neste contexto contemporâneo tão árduo, talvez, quanto foram os remotos períodos de pedra lascada (paleolítico) e polida (neolítico). No coração há ardor esportivo e vibrante fulgor de vitória, tal qual pulsa-nos esperança o relato dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35) ao compartir a experiência de encontrar ressuscitado o Moço moreno de Nazaré, e reacender a chama da vida à missão de ser luz às nações (Mt 28,18-20).