Jovens, universitários(as), que dedicam seu tempo aos estudos não incluem-se aos dados estatísticos de desemprego, pois, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) compreende que estas pessoas têm uma ocupação formal importante, ou seja, seu trabalho atual é estudar. Questão salutar é compreender como ingressar, permanecer e, após concluir os estudos superiores, compor o âmbito de pessoas com trabalho?
O Brasil, no primeiro trimestre de 2021, registrou 14,8 milhões de pessoas desocupadas ou desempregadas. Refletir o desemprego, de forma branda, significa dizer que há pessoas, com idade superior aos 14 anos, aptas, disponíveis e buscando um trabalho, mas que não o exercem oficialmente. Neste sentido, a pessoa que é dona de casa, estudante universitária ou possuidora de seu próprio negócio não pode ser considerada desempregada. É importante, portanto, considerar alarmante que o índice de brasileiros(as) desempregados tenha alcançado 14,7% nos primeiros meses de 2021.
A Campanha da Fraternidade, em 1999, propôs a interrogação: “Sem trabalho. Por quê?” A Campanha da Fraternidade 2022, por sua vez, exorta à reflexão da Educação. À luz da fé cristã e da realidade educativa brasileira, a CF 2022 convida ao diálogo através do tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31, 26). Inquieta-nos pensar o contexto contemporâneo da juventude brasileira?
Na Capital Nacional da Literatura (Lei nº 11.264, 02 de janeiro 2006), em junho 2021, a saber, o índice de candidatos(as), às vagas de Medicina na Universidade de Passo Fundo (UPF), alcançou 55,5% do concurso vestibular. Implica dizer que para cada vaga universitária, referente ao curso superior de medicina, havia mais de 55 pessoas prestando prova. Que acontecerá com as, aproximadamente, 54 pessoas que não irão ingressar no curso superior almejado? Há porvir, certamente, oportunidade no próximo vestibular. Há, ademais, outras instituições de ensino superior. A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) dispõe curso de Medicina, é verdade. E políticas públicas que atendam a demanda de jovens? A pandemia (Covid-19) evidencia a importância magna da saúde pública e de todas as pessoas envolvidas neste amplo campo de estudo, trabalho e afins.
César Sanson, docente no departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ao refletir sobre o tema “Trabalho” a partir da 6ª Semana Social Brasileira, questiona: “Como as pessoas serão incluídas socialmente? Como distribuir as riquezas socialmente produzidas? O que fazer para que todos tenham o que comer?” Mais! “Talvez seja o momento de assumirmos o papel de pensar o impensável, de sugerir o que parece ser utópico em meio ao distópico. Chega de Reformas, essas não abalam o capital. Por dentro da economia, o debate se dá na esfera da ‘ordem’ e não da ‘ruptura’. É necessário recuperar reflexões de fundo que nos tirem do debate conjuntural e nos empurrem para reflexões estruturais onde o trabalho ocupe um lugar emancipatório e não de conformação e/ou subordinação”.
A juventude é protagonista da história e constrói-se na alteridade humana, social, política, econômica, cultural e eclesial, via projetos de vida à realidade concreta, observada, refletida, discernida e sujeita à transformação. Para efetivar “utopias concretas”, cada pessoa, cada jovem, estudante, trabalhador(a) ou não, necessita de recursos e meios essenciais à digna formação e promoção humana integral. Ao vestibular da digna vida, há vagas?