A redemocratização brasileira constrói-se, entre farpas e glórias, desde o século passado. Na década de 1980, o povo mobilizou-se através da campanha “Diretas já”, reivindicando a eleição direta para a Presidência da República que, com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, completa tão importante ciclo à nação brasileira. Neste processo, a organização, articulação, o diálogo e a formação de uma consciência crítica à sociedade civil fora fundamental para que, através do voto, fossem assegurados os deveres e direitos constitucionais à escolha de representantes capazes de gestar o bem comum através da governabilidade do Estado.
Ao longo da história democrática brasileira, são registradas inúmeras movimentações sociais, nas quais houve significativa participação juvenil. Na década de 1990 houve intensa mobilização da juventude brasileira, registrada à história como “caras-pintadas”, na qual estudantes organizados tomaram as ruas com as cores verde e amarela no rosto. Já na década de 2010, outra significativa expressão de organicidade juvenil ocorreu pelo viés das chamadas “ocupações das escolas”; em 2013 e 2016, estudantes e educadores(as), em diversos locais do país, escolas secundárias e universidades, ocupam tais espaços propondo ações dialógicas em prol do bem comum, principalmente, voltadas à educação. Tais articulações gestaram intensos debates sociopolíticos convocando o Estado à roda de conversa.
A Doutrina Social da Igreja ensina que “o compromisso político é uma expressão qualificada e exigente do compromisso cristão ao serviço dos outros” (CDSI, n. 565). Tal ação política inspira-se a partir de algumas orientações, a saber, a busca do “bem comum em um espírito de serviço; o desenvolvimento da justiça com uma atenção particular para com as situações de pobreza e sofrimento; o respeito pela autonomia das realidades terrenas; o princípio da subsidiariedade; a promoção do diálogo e da paz no horizonte da solidariedade” (CDSI, n. 565).
É lícita e plenamente válida a reta intenção de gestar caminhos dialógicos de consciência crítica à comunidade social, especialmente, às jovens e aos jovens. Na compreensão da Doutrina Social compõe a essência, à construção de cidadania, “buscar sinceramente a verdade, promover e defender com meios lícitos as verdades morais concernentes à vida social – a justiça, a liberdade, o respeito à vida e aos demais direitos da pessoa –, é direito e dever de todos os membros de uma comunidade social e política” (CDSI, n. 571).
Faz-se compreensível, neste ínterim, a atual mobilização de grupos juvenis, instituições e do meio artístico nacional e internacional à fomentar adolescentes e jovens, entre 16 e 17 anos, para a confecção do Título Eleitoral. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), neste 2022, registra-se histórico o menor índice de adolescentes aptos ao voto por não portar o título de eleitor(a). Foram apenas 830 mil indivíduos cadastrados no TSE até fevereiro de 2022, uma vez que, em 2018, no mesmo período, o número de adolescentes que procuram tirar o título alcançou 1,4 milhão. Nas redes sociais, Anitta, cantora brasileira reconhecida internacionalmente, postou: “então agora é isso, me pediu foto quando me encontrou em algum lugar? Se for maior de 16, eu só tiro a foto se tiver a foto do título de eleitor” (@anitta). Há, neste contexto, grande articulação e mobilização objetivando que adolescentes e jovens optem por envolver-se democraticamente no cenário político nacional através do exercício do voto.
Portar título eleitoral é direito e dever aos sujeitos cidadãos brasileiros. O prazo para tirar e/ou regularizar o título de eleitor(a) finda-se em 04 de maio 2022. Para garantir este importante papel de cidadania, cada pessoa tem acesso através do TSE pelo site (https://www.tse.jus.br). Ademais, uma vez que a pessoa, seja ela adolescente, jovem ou adulta, esteja habilitada ao exercício democrático do voto, é salutar acompanhar as propostas apresentadas e dialogar acerca dos projetos, com espírito crítico, pois, “é preciso fazer uma escolha coerente com os valores, tendo em conta as circunstâncias reais. Em todo caso, qualquer escolha deve ser radicada na caridade e voltada para a busca do bem comum” (CDSI, n. 573).
Portanto, para um ético e saudável exercício de cidadania, com consciência crítica e reto discernimento, cabe aos cidadãos(ãs) brasileiros, especialmente aos cristãos(ãs), adolescentes, jovens e adultos, no caminho de escolha aos projetos propostos, procurar “em diálogo sincero, esclarecer-se reciprocamente, conservando a caridade mútua, e preocupados em primeiro lugar com o bem comum” (CDSI, n. 574) ir às urnas para que, desta forma, ao valer-se de seu direito e dever cívico de votar, possam escolher representantes aptos e dignos de governança pública.