Nos domingos do tempo comum que antecedem ao período quaresmal estamos acompanhando o Evangelho de Lucas, texto escrito por um cristão de segunda geração, em torno do ano 80 d.C destinado às comunidades formadas por pessoas oriundas da cultura greco-romana em processo de conversão à proposta cristã. Segundo dados Lucas foi um pagão convertido e se fez companheiro de Paulo nas suas atividades missionárias. Ele fez-se missionário como seus anunciadores e optou, aproveitando seus dons, para escrever sobre a vida do Filho de Deus para melhor ajudar as comunidades a viverem a sua fé, como ele mesmo descreve. “Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, tal qual como nos transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da palavra. Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo, para que conheças a solidez daqueles ensinamentos que tens recebido (Lc 1,1-4). Lucas também escreveu sobre a vida dos seguidores de Jesus, o livro dos Atos dos Apóstolos.
Os textos que acompanhamos nestes domingos seguem narrando a experiência do Nazareno com seus discípulos deste o chamado segundo o calendário litúrgico do ano C. No quinto domingo comum refletimos o chamado dos primeiros discípulos à missão. Jesus os convidou a serem pescadores de homens (Lc 5,1-11). Destacamos aqui a força da Palavra pronunciada por Jesus que fez Pedro e seus companheiros avançarem para as águas mais profundas na pescaria e no seguimento do Mestre.
No sexto domingo comum adentramos no Sermão da Planície. Segundo o texto, Jesus desce da montanha e a multidão se aproxima dele e o cerca, certamente para ouvi-lo (Lc 6,17). Jesus faz proclamação das bem-aventuranças e os alertas, sendo as bem-aventuranças um convite feito aos discípulos para configurar a vida segundo o Plano de Deus. O mesmo tempo faz alguns alertas segundo a expressão “ai de vós” para aqueles que confiam toda a sua segurança nos bens materiais. Explicita-se, nas palavras de Jesus, a grande diferença entre agir como bem-aventurado e agir se confiando nos bens terrenos (Lc 6,17.20-26). No sétimo domingo comum vimos que Jesus continua a orientação aos discípulos diante da missão que estavam assumindo (Lc 6,27-28). Convida o grupo, entre outras coisas a serem misericordiosos como Pai é misericordioso. Esta proposta teria uma série de desdobramentos na prática diária do grupo na perspectiva de terem um agir diferenciado em relação à realidade do seu tempo concretizado no amor e no perdão. É o caminho propostos a todo o cristão em todos os tempos, sobretudo na atualidade, onde a agressividade e a negação do outro se apresentam como caminhos de vida. Não são segundo a proposta de Jesus.
Neste oitavo domingo comum, antecedendo ao início da caminhada quaresmal, continuamos nos guiando nas celebrações dominicais pelo Evangelho de Lucas que relata a continuidade das orientações de Jesus ao discipulado (Lc 6,39-45). É a última parte do Sermão da Planície. Tem-se a impressão de um aprofundamento das exigências do Mestre quanto ao comportamento e posicionamento dos seguidores. O texto escrito por Lucas também tem como preocupação as comunidades dos anos 80 d.C. e suas dificuldades de relacionamento.
Jesus convida a um olhar pessoal, que exigirá a capacidade de reconhecer as próprias limitações antes de assumir de forma prepotente ou orgulhosa a missão de orientar o irmão: pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois no mesmo buraco? Ou então: por que tu vês o cisco no olho do teu irmão e não percebes a trave (exagero proposital) que está no teu olho? Antes de olhar os processos de vida do outro, convida a olhar os próprios de forma sóbria e crítica. Todavia, cuidado. Não significa conivência com o erro, mas a capacidade de enfrentá-lo segundo o fundamento da misericórdia e não como justiceiros que se autoexcluem.
Também apresenta a comparação da árvore que dá frutos bons. Implica compreender que é pela prática expressa no cotidiano que se reconhece a opção de vida da pessoa. Os atos revelam quem são as pessoas. Não se espere gestos de bondade de pessoas que não têm essa índole ou essa opção em seu coração.
Assim, Jesus propõe aos seguidores uma nova forma de agir, segundo os critérios do Reino por Ele anunciado. É uma proposta também para nós. Possamos a acolher e seguir.
Fonte: Pe. Ari Antonio dos Reis - Coordenador de Pastoral