“O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto se amor, nem se arrepende de nos ter criado.” (Papa Francisco. Laudato Si, 13).
Conforme mencionamos no artigo que iniciou esta série sobre a Laudato Si (LS), nossa proposta é degustar, em conjunto com você, este belíssimo e tão atual documento. Nossa proposta é fazer um sobrevoo pela introdução (pag. 06 até a 16). Contudo, pela profundidade da Encíclica, lhe convidamos a ler estas páginas e vir a debater conosco este recorte. Sim, deixe sua opinião, o que mais lhe tocou o coração e vamos construir juntos este caminho de maior conhecimento da LS.
Para iniciarmos, vale trazer uma curiosidade pessoal para compartilhar. Em 1995, os estúdios Disney lançaram a animação Pocahontas. Por ter passado a infância em uma cidade pequena, lembro que já adentravam os anos 2000, a pulverização da internet (discada), o acesso a computadores em casa, quando chegou à minha cidade, nas locadoras, este filme. Ao fechar os olhos, vem à lembrança a história, mas em especial a trilha sonora. Composta cuidadosamente, como normalmente, todas as obras deste estúdio. Dentre tantas letras, uma em especial despertou de tal forma a minha atenção que até hoje, vinte e quatro anos depois, ainda ecoa e por uma doce coincidência, ao conhecer a LS em 2018, voltou à memória. Essa música fala da conexão entre o ser humano e a terra, em que “somos tão ligados uns aos outros, neste arco, neste círculo sem fim”. Caso queira conhecer mais sobre a Colors of the wind (Cores do vento) de Alan Menken e Stephen Schwartz, clique aqui!
Tudo está interligado
Neste sentido, o Papa Francisco, com toda a sua pedagogia, quer nos mostrar e nos convidar a enraizar em nosso coração, que tudo está interligado. A natureza não conhece limites e fronteiras, impostas pelo homem e adquiridas através de guerras, conflitos, bem como acordos. Afinal, “o vento sopra onde ele quer.” (Jo 3,8). Por isso, o que fazemos aqui, não fica necessariamente aqui. O movimento e seus efeitos, bons e/ou maus, são espalhados naturalmente e em algum lugar da nossa Casa Comum vão encontrar morada. Ao encontrar, de algum modo, vai modificar a estrutura local e como estamos assistindo, em vários lugares do nosso Brasil, mas também de outras nações, determinando a existência e/ou continuidade da vida.
Infelizmente, parece que o Papa Francisco, bem como seus antecessores – João XXIII, através da mensagem Pacen in terris; beato Paulo VI, em seu discurso à FAO (Food and Agriculture Organization (Organização da Comida (alimento) e da Agricultura – órgão integrante da ONU)); São João Paulo II, na Redemptor hominis, em suas catequeses, discursos e cartas; e, por fim, Bento XVI, em seus escritos, têm a real lucidez e clareza de como a natureza “geme e sofre dores de parto” (Rm 8,22), fruto da ganância inconsequente da humanidade.
Uma preocupação espiritual e social
Todavia, você pode estar se questionando, mas isso é papel da Igreja? Sim e queremos apresentar dois motivos que sustentam essa resposta:
1. A nossa Igreja, Católica, Apostólica, Romana, não se preocupa unicamente com a salvação das almas de seus crentes. Ela luta pelo ser humano como um todo: corpo, alma e espírito.
2. Fomos fundados sobre os passos de Cristo e de seus apóstolos. Dessa forma, precisamos olhar para o Evangelho. O que nos diz Jesus? Como nós, seus discípulos, devemos tratar a criação do Pai, bem como nossos irmãos e irmãs, em especial, aqueles que mais precisam, neste momento, de cada um de nós?
Por isso, como a Igreja tem o olhar no cuidado e na integridade da pessoa, é que qualquer assunto que venha a prejudicar a liberdade e dignidade, o Magistério (pela ação da presença do Espírito Santo) da Igreja, e todos nós, batizados, temos o dever de nos manifestar. Neste sentido, o Papa por ser nosso pastor, indica o caminho e nós o ajudamos a concretizá-lo.
Por quê o Papa chama cada um de nós para o protagonismo em prol da mudança, e estende este convite a cada homem e mulher de boa vontade?
Convite a nós batizados
Cada um de nós ao ser batizado, além da “purificação” do pecado original, recebe três presentes de Jesus: o Sacerdócio (plena liberdade de falar diretamente com Deus, que nos ama e é nosso Pai), Profetismo (capacidade de discernir sobre o que não está de acordo com a Vontade de Deus, e denunciar as ações que afrontam a dignidade humana e as injustiças sociais) e a Realeza (autoridade, concedida pelo Espírito Santo, através de seus dons gratuitos, para contribuir na Implantação do Reino de Deus).
Os que não são cristãos
O Papa é o bispo de Roma, Sumo Pontífice do rebanho, mas também é o presidente do Vaticano, que é reconhecido enquanto Estado-nação, desde 1929. Por isso, como estadista, ele tem o poder e a obrigação de se envolver com assuntos sociais, que prejudiquem o bem comum.
Aliás, você sabe o que é o bem comum?
São os direitos e obrigações que garantem o mínimo de dignidade a todo o ser vivo. Cada qual com seus tratados e acordos bilaterais. Isso inclui o ser humano, desde sua concepção até seu regresso à Morada Eterna, bem como a natureza.
Ainda, a LS (2015, 6) nos lembra que “o livro da natureza é uno e indivisível, incluindo entre outras coisas, o ambiente, a vida, a sexualidade, a família, as relações sociais”. Além disso, que a “degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana”. Diz inclusive que o “homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas também natureza”.
Avançando, mas um passo de cada vez
A Laudato Si é uma encíclica contagiante e que deve ser degustada aos poucos. Por isso, vamos findar nossa reflexão neste ponto, para que você possa refletir e “entronizar” em seu coração este convite para repensar as próprias convicções.
Falaremos mais sobre esta introdução no próximo momento em que estivermos juntos!
Até breve!
Fonte: Jocelito André e Valeska Salvador