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04.Fev - A ilimitada sede de ser escutado!
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A ilimitada sede de ser escutado!

O exercício de um autêntico diálogo desenvolve-se, a priori, pelo viés de algo essencial à comunicação humana, a escuta. Eis um primordial desejo de felicidade interior a fulgurar o coração humano: a ilimitada sede de ser escutado! Para que haja vida é indispensável ao corpo receber oxigênio, sendo responsável o sangue para transporte, pelos caminhos mais curiosos do sistema circulatório. À oxigenação da comunicação dialógica na alteridade do bem viver societário tem importante suporte logístico a escuta.


A própria “fé provem da escuta” (Rm 10,17) afirma o Apóstolo Paulo. Deus, pela Palavra, comunica-se e a pessoa, inclinando o ouvido, escuta-o. Não se trata de uma mera percepção acústica e biológica, antes sim, expressa a profunda comunhão dialogal entre humano e divino, dimensão ímpar à caridade (1Cor 13, 1-13). Mesmo àquelas pessoas desprovidas da habilidade de ouvir, por surdez, têm aptidão para comunicar-se, pois, existem modos múltiplos de encontrar-se, dialeticamente. A história bíblica recorda a experiência do jovem rei Salomão que rezou à Deus com discernimento e sabedoria ao pedir: “Dá ao teu servo um coração que escute, para julgar teu povo e distinguir entre o bem e o mal” (1Rs 3,9). Corde audire, rezava Santo Agostinho.


Na realidade contextual contemporânea “estamos perdendo a capacidade de ouvir a pessoa que temos à nossa frente, tanto na teia normal das relações quotidianas como nos debates sobre os assuntos mais importantes da convivência civil” (Papa Francisco). Que fazer? “Precisamos de nos exercitar na arte de escutar, que é mais do que ouvir. Escutar, na comunicação com o outro, é a capacidade do coração que torna possível a proximidade, sem a qual não existe um verdadeiro encontro espiritual. Escutar ajuda-nos a individuar o gesto e a palavra oportunos que nos desinstalam da cômoda condição de espectadores” (EG, n. 171).


À memória histórica é salutar ponderar que na ausência de um diálogo autêntico e comunicativo, pela carestia da verdadeira escuta, prolifera-se, muitas vezes, aquilo que a filósofa alemã Hannah Arendt traduziu como “Banalidade do Mal”, isto é, a mediocridade do não pensar e agir ético moral que propicia a massificação de indivíduos. O holocausto, “a Shoah não deve ser esquecida. É o ‘símbolo dos extremos aonde pode chegar a maldade do homem, quando, atiçado por falsas ideologias, esquece a dignidade fundamental de cada pessoa, a qual merece respeito absoluto seja qual for o povo a que pertença e a religião que professe’” (FrT, n. 247). Mais! “Não se devem esquecer os bombardeamentos atômicos em Hiroshima e Nagasaki [...]. Não podemos permitir que a geração atual e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno” (FrT, n. 248). E quantas outras memórias poderiam ser elencadas, não?


Francisco insiste que “a escuta é o primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação”, um real apostolado a nos tornar próximos, pois, “não fomos feitos para viver como átomos, mas juntos”. No cotidiano das relações e no construto da fraternidade e amizade social compete-nos recorrer as palavras de São Tiago: “cada um seja rápido para escutar, mas lento para falar e vagaroso para ficar com raiva” (Tg 1,19) para que tenhamos a sensibilidade de, parafraseando São Francisco de Assis, “inclinar o ouvido do coração” à boa comunicação que nutre e oxigena à digna vida, sem esquecer a profecia. “Nessa busca, devemos privilegiar a linguagem da proximidade, a linguagem do amor desinteressado, relacional e existencial que toca o coração, a vida, desperta esperança e desejos. É necessário aproximar-se dos jovens com a gramática do amor” (ChV, n. 211) que tudo escuta e reverbera gerando Boa Nova!


 


Padre Leandro de Mello

Padre Leandro de Mello

Pároco na paróquia Nossa Senhora dos Navegantes – Ronda Alta, e Assessor da Pastoral da Juventude

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