Por causa da tua palavra (Lc 11,5)
Neste quinto domingo do tempo comum, conduzidos pelo evangelho de Lucas, vamos acompanhar um encontro significativo e certamente determinante na vida daqueles homens que se tornaram, na versão de Lucas, os primeiros discípulos de Jesus. Neste encontro veremos a força da Palavra de Jesus, capaz de ensinar, orientar, assumir novos desafios e a uma outra experiência de vida. Ao redor dessa Palavra nos reunimos dominicalmente. Ela sempre sugere algo novo para um coração que tem fé.
A experiência relatada por Lucas aconteceu à beira do Lago de Genesaré, lugar de missão de Jesus, um “lugar teológico”, onde Jesus desenvolve sua atividade libertadora (cf. José Bortolini, p. 594) depois das primeiras experiências nas sinagogas, algumas promissoras e outras nem tanto.
No capítulo quatro, o evangelista afirma que Jesus voltou para a Galileia com a força do Espírito e sua fama se espalhou por toda a região. Ele ensinava nas sinagogas deles e era elogiado por todos (Lc 4,14-15). Em seguida foi na sua terra natal, Nazaré e, ali teve dificuldades, mas não deixou de anunciar o seu projeto libertador (cf. Lc 4,16-30).
Certamente Jesus já se tornara foco de atenção para muitas pessoas da região, o que explica o motivo da multidão apertar-se ao seu redor para “ouvir sua Palavra”. As pessoas procuram e se detêm em algo ou alguém que lhes interessa, lhes diz respeito. A Palavra de Jesus chamava atenção dessas pessoas. Elas buscavam Jesus. A Palavra marcada pela perspectiva do ensino era dirigida à multidão como anúncio do Reino, a boa nova de Jesus que promove a vida para todos, sem distinção.
Próximo dali, talvez um tanto alheios ao diálogo de Jesus e à multidão, um grupo de pescadores estava dando por encerrada a missão do turno. Segundo o texto, estavam lavando as redes. Jesus tomou uma das barcas emprestada, a de Simão, e subindo nela, ensinava as multidões. Duas compreensões dessa expressão. Primeira: Jesus coloca-se no lugar daqueles homens, frustrados pelo trabalho infrutífero. Sofre o sofrimento deles, coloca-se na barca deles, naquele momento uma barca vazia de peixes. Segunda: a barca, que antes fora utilizada para a pesca, agora era o lugar de onde o Mestre ensinava. Um lugar teológico. De onde o Mestre se comunica com seu povo. Da barca lançava a Palavra, capaz de atingir a todos, chegar ao coração de todos. Aquela barca estava dando “frutos”, gerando vida. A Palavra gera fruto, alegrias, transformações.
Jesus fez uma provocação a Simão e seus companheiros. Não deveriam se acomodar ao insucesso. A Palavra agora não dirigia à multidão, mas àquele pequeno grupo. No momento eles precisavam de atenção, de uma Palavra diferenciada. Pediu que avançassem para as águas mais profundas e lançassem as redes. O pedido soou inusitado para o grupo e quem sabe para a multidão, que escutou o pedido. Aqueles homens eram pescadores experimentados e sabia-se que Jesus não tinha grande experiência de pesca. A expressão de Simão explicita em um primeiro momento o inusitado da situação. Disse: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos” (Lc 5,6). Ele revelou a realidade do trabalho árduo de homens experientes, mas, que, naquela noite, não dera resultado.
Porém, explicitou, em um segundo momento, uma condição, sinal de que algo de novo estava acontecendo: “mas, em atenção a “Tua Palavra” vou lançar as redes” (Lc 5,6). A Palavra de Jesus mostrou a Simão e seus companheiros uma autoridade acima da realidade cotidiana da pesca, da qual eram sabedores. Esta nova realidade era algo que ainda não podiam mensurar, entretanto misteriosamente, deveriam obedecer. Foram provocados a avançar para as águas mais profundas, naquele momento e em outros momentos.
Ele escutou e obedeceu “aquela Palavra”. Segundo o texto, conquistaram grande quantidade de peixes.
Ao perceber quem era Jesus, Simão queria se afastar. Mas Jesus faz o contrário. Novamente usa a Palavra, primeiro para tranquilizar aquele homem. Não estava procurando pessoas perfeitas. Disse: “não tenhas medo” (Lc 5,10). Em seguida, para uma proposta ainda mais ousada. Deveriam deixar tudo para ser, como Jesus, pescadores de homens (Lc 5,11).
A Palavra que ensinava a multidão, que orientou os discípulos a avançarem para as águas mais profundas, que acalmou o coração de Simão, trazia agora um convite, seguir Jesus para pescar homens. Expressou sua força e autoridade. Eles deixaram tudo e seguiram Jesus.
Que esta Palavra possa guiar nossas vidas!
Fonte: Pe. Ari Antonio dos Reis - Coordenador de Pastoral