Esta expressão, tirada do livro do Deuteronômio (Dt 30,19), reforça um princípio fundamental da tradição cristã, a preservação da vida humana em todas as suas fases, desde a concepção até o seu ocaso. Faz-se esta retomada tendo presente a iniciativa do Supremo Tribunal Federal retomar a pauta do aborto que seria permitido até a 12ª semana de gestação.
A Igreja sempre pautou a sua preocupação com a vida humana. São Paulo VI durante o seu pontificado escreveu a Encíclica Humanae Vitae, publicado em 1975, reiterando o posicionamento da Igreja sobre o tema salvaguardando do direito da vida de todo o ser humano. São João Paulo II retomou a reflexão em 1995 com a publicação da Encíclica Evangelium Vitae, sobre o valor da inviabilidade da vida humana. Afirma que: O Evangelho da vida está no centro da mensagem de Jesus. Amorosamente acolhido cada dia pela Igreja, há de ser fiel e corajosamente anunciado como boa nova aos homens de todos os tempos e culturas (EV 1). Diante da vida ameaçada já desde a concepção e em outras fases da trajetória o Santo lembra: este anúncio torna-se particularmente urgente pela impressionante multiplicação e agravamento das ameaças à vida das pessoas e dos povos, sobretudo quando ela é débil e indefesa. Às antigas e dolorosas chagas da miséria, da fome, das epidemias, da violência e das guerras, vêm-se juntar outras com modalidades inéditas e dimensões inquietantes (EV 3).
No próximo dia 1º começa a semana em defesa do nascituro voltada a reflexão sobre a inviabilidade da vida humana já no ventre materno. É uma campanha necessária diante de tantos argumentos de sustentação da interrupção da gravidez. A vida é vida desde a concepção e para os cristãos é o bem maior que está acima de todas e outras dimensões. É necessária pautar esta temática em vista da tentação de negligenciar o direito à vida mais fragilizada, aquele que ainda não consegue se defender.
Faz-se necessário ampliar o debate frente a tantas outras ameaças à vida humana que pode vir a luz por vontade divina. Deve continuar a sua trajetória até o ocaso quando naturalmente voltará aos braços do criador, segundo os princípios da fé cristã. Toda a vida interrompida em seu curso, que seja pelas regras da natureza, constitui um rompimento com o desejo divino. Neste caso retoma-se o alerta de São João Paulo II sobre as tantas ameaças à vida em suas diferentes fases.
Infelizmente a lista de situações se amplia de forma significativa. Lembremos as crianças das periferias e zonas rurais que não têm alimentação adequada. A Campanha da Fraternidade proposta para esse ano, tematizando a fome, revela essa problemática. Essas mesmas crianças estão a mercê da violência na rua e até mesmo dentro de seus lares. São inúmeras as notícias de assassinato de crianças os quais tem com autores aqueles que deveriam protegê-las. Nas ruas as vidas são perdidas devido a tantas situações de violência. Seguidamente temos notícias de crianças e adolescentes mortos, devido a “balas perdidas”. A ameaça de letalidade por violência atinge também os adolescentes e jovens, especialmente negros. As pesquisas confirmam o número de mortos dessa faixa etária. Tais mortes não são causas naturais, mas fruto da violência.
Não é possível desconhecer a vida da pessoa idosa, já fragilizada por questões físicas, por isso, necessitada de cuidado especial. A sociedade tem cometido o equívoco de plenificar a juventude como etapa mais importante da vida. Estes equívocos têm implicâncias subjetivas e sociais. No caso da sociedade se dá o risco de compreender o idoso como empecilho, problema e não como um valor em si como filho de Deus que teve a graça de chegar à maturidade. A consequência é a negligência com a vida do idoso. Ele deixa de ser importante em si e, por isso tem sua integridade física ameaçada devido ao abandono familiar e social.
Lembremos que a vida que desabrocha tem necessidade de proteção em todo o seu processo. Começa com os nascituros e se prolonga para as outras etapas.
Fonte: Coordenador de Pastoral - Pe. Ari Antonio dos Reis