Continuando a reflexão sobre o modo de Viver a Liturgia na Paróquia, chegamos à pergunta: Quem deve se ocupar da Liturgia? A questão não se limita a uma reflexão sobre quem deva ocupar-se da liturgia na Paróquia, mas também na Diocese e na Igreja toda.
Em geral, para cada serviço existente, costuma-se delegar responsabilidades a comissões, equipes, grupos determinados de pessoas que entendam do assunto. Isso tem o seu valor, mas também pode apresentar limitações. Não raro, tais pessoas se especializam abstratamente no tema, sem se inserirem na realidade concreta do povo, sem se inculturarem, e isso não é nada bom. O Papa São João Paulo II, em 1990, disse: “A inculturação deve envolver todo o povo de Deus, não apenas alguns especialistas, pois é sabido que o povo reflete aquele genuíno senso de fé que nunca devemos perder de vista (…) deve ser expressão da vida comunitária, isto é, amadurecer na comunidade, e não fruto exclusivo de pesquisas eruditas”.
Outra dificuldade recorrente é que as pessoas encarregadas para uma determinada comissão ou equipe, com frequência, passam anos e anos, ou quase a vida toda, no mesmo posto e isso não é salutar.
Diante destas realidades colocadas não é que haja uma solução milagrosa, também não existe um modo de proceder no zelo pela liturgia, sem as referidas comissões, equipes, grupos…. Contudo, precisamos sim repensar o modo de agir e de fazer das equipes litúrgicas em todos os âmbitos: paroquial, diocesano e universal. Devemos encontrar maneiras para ouvir a todos os “especialistas” que vivem uma experiência de fé, de amor e de serviço a Jesus Cristo e à sua Igreja, pois “só quem experimentou é capaz de entender o que significa amar a Cristo”.
Como fazer, porém, para ouvir a todos? As comissões precisam ter essa sensibilidade e cuidado para integrar, ouvir, colher da sabedoria de todas as pessoas e integrar, inculturar.
Outro desafio para as comissões é encontrar pessoas que tenham a competência para unificar as dimensões, muitas vezes setorizadas, da liturgia, da música e da arte. O liturgista deve ser também músico e artista. O músico precisa entender de liturgia e de arte e o artista, que delineou o espaço sagrado, tem que compreender de liturgia e de música, pois estas são realidades que precisam estar muito bem integradas e harmonizadas entre si para a realização de celebrações que mais reflitam a comunicação e o encontro com Deus. E, se nas comunidades não há pessoas assim preparadas, é por causa de um descuido que precisa ser corrigido com investimento, estudo, capacitação… pois a Igreja sempre cuidou muito da educação e da preparação de pessoas competentes.
Quando em um lugar se alcança a plena harmonização dos diversos setores que compõem a celebração litúrgica, encanta-se a comunidade toda, no modo de como tocar, ver, sentir o mistério divino manifestando-se através da mística que envolve fé, espiritualidade, liturgia, música, arte.
Para melhor exemplificar o papel das comissões litúrgicas, podemos usar a imagem dos coros nas celebrações. Eles são necessários para sustentar o canto, mas eles não podem impedir a assembleia toda de cantar. Devem sim puxar, interagir, intercalar com a assembleia, abrilhantando dessa forma a música litúrgica.
Assim, também as comissões litúrgicas, devem conduzir, refletir, orientar, mas precisam ouvir, interagir, integrar, caminhar junto com toda a comunidade que celebra.