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A paciência de escutar

A paciência de escutar

  Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada (Lc 10,42)   Neste 16º Domingo do Tempo Comum

 

Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada (Lc 10,42)

 

Neste 16º Domingo do Tempo Comum continuamos peregrinando com Jesus na sua jornada missionária e misericordiosa cumprindo o desígnio divino. Refletiremos a visita que fez a uma família de amigos e as diferentes reações ao seu ensinamento (Lc 10, 38-42). Jesus havia tomado a decisão de ir para Jerusalém (Lc 9,53), centro político, religioso e econômico.  

No caminho, na cidade de Betânia, visitou as irmãs Marta e Maria. Outros textos mencionam o parentesco de Marta e Maria com Lázaro, aquele que Jesus ressuscitou (Jo 11,11; 12,1s). Lucas não menciona a presença de Lázaro em casa.  Ambas receberam Jesus com alegria. Marta, certamente a irmã mais velha, faz as honras da casa na presença de Maria. Imaginemos quando alguém querido vem visitar nossas famílias. Alguém recebe, mas todos se apresentam para demostrar a alegria e afeto por aquela presença. Jesus era amigo daquela família. A acolhida afetuosa era parte do rito de quem acolhe uma pessoa apreciada.  Todavia, as irmãs assumem atitudes diferentes diante da presença do Mestre. Isto porque a visita de Jesus revelou algo mais do que a simples presença de um amigo. As irmãs assumem as reações diferenciadas diante de Jesus e do objetivo da sua visita que foi mais do que um ato de afeto.

Destaca-se a atitude de Jesus como aquele que visita em nome do Pai e, nesta visita se dispôs a ensinar. Naquele tempo os mestres ensinavam somente os homens e acolhiam varões para o discipulado. Lucas revela em Jesus um posicionamento diferenciado. Ele acolhia mulheres como discípulas (Lc 8,1-3) e se dispunha a dirigir a palavra como ensinamento também às mulheres. Fez isso na casa de Marta e Maria quando as visitava. A elas transmite a boa nova do evangelho. Como as irmãs acolheram a disponibilidade do Nazareno em transmitir a palavra, em ensinar?

Marta não conseguiu parar e ver sentido no ensinamento de Jesus. Estava preocupada em garantir a hospitalidade do Mestre, costume muito importante na época. Ela optou por permanecer mergulhada nas atividades da casa, que para ela, no momento, tinham mais significado. E não contente em permanecer mergulhada no cotidiano do trabalho fez um pouco mais: chamou atenção para que Jesus mandasse a irmã fazer a mesma coisa, pois sentia-se muito atarefada. O fato de Jesus apresentar para ela e sua irmã a boa nova não foi importante. Não conseguiu ver ali uma novidade, um caminho diferenciado.  As “pré-ocupações” do cotidiano a mantiveram longe da palavra do Mestre e com isso, não permitiram um novo sentido a sua vida. Jesus havia dado a ela a oportunidade de ouvir a sua palavra. Ela não conseguiu ver ali uma luz. Optou pelo caminho do ativismo doméstico que no momento lhe satisfazia.

 Maria assumiu outra atitude. Assim como Marta, recebeu Jesus com alegria. Desde então se dispôs a ficar aos pés do Mestre, como os discípulos daquele tempo, ficavam escutando as orientações dos seus preceptores. Para Maria o tempo era para escutar Jesus.  Para ela, no momento, nada mais era necessário, porque estava acolhendo o ensinamento de Jesus. Estava na mesma condição das pessoas que abriam a inteligência e coração quando escutavam o filho de Deus e ficavam maravilhadas com o seu ensinamento, pois ele falava com autoridade (Lc 4,31).

Maria se deu ao direito de acolher o ensinamento de Jesus que já havia dado a ela e sua irmã Marta o direito ao discipulado.  E ela exerceu esta opção. Despojou-se de qualquer outra “pre-ocupação” para exercer o direito ao discipulado que começa com a escuta do Mestre que se dispunha a ensinar.

O discipulado de Jesus tem um fundamento valioso do qual não é possível abdicar. Exige, contudo a paciência de escutá-lo e acolhê-lo. Outras coisas, certamente são necessárias e importantes e não devem ser esquecidas. Contudo, cabe, como Maria o fez, reservar o tempo necessário para escutar o que o Mestre tem a dizer. Fará toda a diferença nos processos futuros.

Segundo o texto de Lucas, Marta reagiu a atitude de Maria. Jesus não ficou impassível diante das palavras de Marta. Porém não desconheceu suas preocupações. O ato de repetir duas vezes o seu nome soa como uma carinhosa chamada de atenção. É algo solene. É uma exortação. Um convite a dar um passo a mais e superar o “tarefismo” no qual havia mergulhado. Disse: “tu andas preocupada e agitada por muitas coisas”. Ou, não te sufoques mulher. Respire um pouco. Exerças o direito ao discipulado que recebeste. Uma só coisa é necessária. Tenha a coragem de fazer esta escolha como Maria fez.

É necessário ter a paciência de escutar Jesus. Maria ensina esta paciência e ela não está em contraposição ao fazer o que Jesus pede. Entretanto, o reservar tempo para a escuta e a meditação da sua palavra são fundamentais para qualificar o que faremos em seu nome. Escutar para melhor viver. Escutar para melhor fazer.

 

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